quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ditados nordestinos

Nossos pais, como bons nordestinos, são especialistas em ditados. Tanto D. Raimunda quanto o Sr. Batista nunca deixaram passar um fato, uma oportunidade qualquer, sem que logo ligasse aquilo com uma expressão, um ditado, um adágio popular que aprenderam ao longo de suas existências. Remexendo papéis velhos, deixados por nosso saudoso pai, encontrei num caderno suas anotações dos ditados que havia decorado. Ei-los:
- Paga o justo pelo pecador;
- Quem guarda tostão junta milhão;
- Quem é bom já nasce feito;
- Seguro morreu de velho;
- Quem tem fé não morre pagão;
- Sofrer como couro de pisar tabaco;
- Beleza não põe mesa;
- O galo canta onde aí janta;
- Quem olha a casa do vizinho se esquece da sua;
- Água mole em pedra dura tanto bate até que fura;
- Quem cochicha o rabo espicha;
- Costume de casa vai à praça;
- Quem faz o mal para si é;
- Quem trabalha Deus ajuda;
- Quem não tem bons dentes não quebra nozes;
- Melhor só do que mal acompanhado;
- Quem se vexa come cru;
- Depois da tempestade vem a bonança;
- Quem muito escolhe no pior se apega;
- Antes tarde do que nunca;
- Quem quebra galho é macaco gordo;
- Quem economiza tem;
- Quem tem rabo de palha não brinca com fogo;
- Dois bicudos não se beijam;
- Quem fala a verdade merece ser perdoado;
- Quem corre cansa, quem anda sempre alcança;
- Quem não tem padrinho morre pagão;
- Quem se faz de mel as abelhas vêm e comem;
- Quem dá o que tem a pedir vem;
- Gato escaldado tem medo de água fria;
- A Esperança é a última que morre (ou a única que não morre...);
- Quem novo não morre de velho não escapa;
- Quem não pode com o pote não pega na rodilha;
- Não pede esmola porque não tem um saco;
- Quem ama perdoa;
- Quem não arrisca nem perde nem ganha;
- Quem muito quer muito perde;
- O que ri por último, ri melhor;
- Quem planta ventos colhe tempestades;
- Desta mata não sai coelho;
- Guarda o que não precisa para ter o que carece;
- Cada um só dá o que possui;
- Esmola grande até cego desconfia;
- Cochilou o cachimbo cai;
- A galinha do meu vizinho é mais gorda do que a minha;
- Quem dá aos pobres empresta a Deus;
- Quem tem pena de angu não engorda cachorro;
- Quem não tem cão caça com gato*;
- Devagar se vai ao longe;
- Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga;
- Melhor amigo na praça do que dinheiro no bolso;
- Faz o bem sem olhar a quem;
- Em terra de cegos quem tem um olho é rei**;
- Melhor fanhoso do que sem nariz;
- Macaco velho não mete a mão em cumbuca;
- Em terra de sapos, de cócoras com eles;
- Entre espinhos nasce flores;
- Quem tem boca vai a Roma;
Observações:
* - O certo seria "Quem não tem cão caça como o gato", isto é, agachado, silencioso, com cautela e espertamente a fim de não perder a presa; pois não há a mínima possibilidade de se caçar com o gato, mas sim como ele.
** - Esta expressão não é nordestina e teria sido cunhada por Erasmo de Roterdã criticando Camões, cuja fama poética ainda não havia corrido o mundo. Luís de Camões era cego de um olho, e com esta crítica o orgulhoso Erasmo menospreza toda a nação portuguesa, considerada por ele um reino só de cegos.

A Bondade sertaneja (VII)

Por: Juraci Josino Cavalcante

A busca da perfeição está no interior de cada um
O abade Jean Baptiste Chautard em sua célebre obra “A Alma de Todo Apostolado” afirma dentre outras coisas: “quanto mais o coração estiver unido a Jesus Cristo, tanto mais se tornará participante da qualidade principal do coração divino e humano do Redentor, sua bondade, indulgência, benevolência, compaixão; tudo nele se multiplica e sua generosidade de dedicação há de atingir as raias da imolação alegre e magnânima.
Transfigurado pelo amor divino, o apóstolo atrairá sem esforços a simpatia das almas: “In bonitate et alacritate animae suae placuit”. As suas palavras e os seus atos serão repassados de bondade, dessa bondade desinteressada, que não se assemelha àquela que é inspirada pelo desejo de popularidade ou pelo egoísmo sutil...”
Tal é a bondade de quem se assemelha a Nosso Senhor que as pessoas vêem Deus e Sua bondade manifestada naqueles religiosos que a praticam: “Deus está ali, exclama o ímpio ou o pecador perante essas dedicações”. Mais adiante Dom Chautard define o que seja esta bondade: “Esses anjos terrestres realizam a seguinte definição do Pe. Faber: “a Bondade é a efusão de si nos outros. Ser bom é pôr os outros em lugar de si próprio”. A bondade tem convertido mais pecadores do que o zelo, a eloqüência ou a instrução, e estas três coisas jamais converteram pessoa alguma sem que a bondade nisso influísse de qualquer modo”. (op. cit. pág. 121).
O homem tem de buscar um equilíbrio entre extremos opostos na prática do Bem, de forma a não cair em exageros ou falta de cumprimento do dever. Como diz a sentença de ascética “In medio stat virtus” isto é, a virtude está no meio, está no equilíbrio. Assim, poderemos imaginar algumas situações em que o homem não pode ficar num extremo nem no outro:
- Amor e ódio - Nunca o amor deve ser lânguido, romântico e imbecil; nunca o ódio deve ser rancoroso, invejoso, vingativo e intempestivo;
- Paciência e irritação – Ser paciente sem indolência e sem preguiça, nunca a paciência deve ser fruto da acomodação, estagnação, ociosidade, como os estóicos. Nunca se irritar seria o ideal, mas se tal for necessário, fazê-lo com suma caridade, calma, embora com toda a veemência possível;
- Falar e ouvir – Ouvir sempre mais do que falar deve ser a regra geral, mas falar sempre quando necessário. Saber falar, modular o tom de voz de acordo com a situação e caso. Saber ouvir, ficar atento ao que se diz. Esmerar-se nisto como numa arte;
- Ser cortês e agressivo - A cortesia manda ser sempre cavalheiro e a necessidade da luta manda sempre ir ao ataque. Se for necessário atacar, procurar fazê-lo com cortesia e cavalheirismo, sem se esquecer de dar toda força de ímpeto ao ataque; quando for cortês nunca se esquecer da luta;
- Trabalho e repouso – Trabalhar como se nunca tivesse de repousar, e repousar pensando que o trabalho em breve o está chamando;
- Sofrer e gozar – Aceitar com calma, paciência e resignação todos os sofrimentos que ocorram naturalmente e permitidos por Deus, em especial aqueles decorrentes do cumprimento do dever e do amor a Deus; gozar dos benefícios, prazeres lícitos e riquezas com duplo sentido: glorificando e dando graças a Deus por tudo e intensamente desapegado aos gozos para não pecar por fruição;
- Espírito de vingança e do perdão – O espírito de vingança é fruto da inveja; em geral o possuem as pessoas que não suportam ter seu orgulho ferido – e aí são implacáveis para com os outros. Devemos combatê-lo com o espírito do perdão, fruto da humildade e do amor. Quem ama, perdoa. Mesmo que não se perdoe aquela pessoa, naquele momento, porque ela não pediu ou não aceita o perdão por orgulho – mas é bom ter no íntimo a vontade de perdoar se as condições mudarem;
- Justiça e benevolência – Ser justo é dar a cada um o que lhe é devido: a Deus o que é de Deus, a César o que é de César; mas também consiste em reparar ou restituir o que for tirado de seu legítimo dono: tanto os bens materiais quanto os espirituais ou imateriais, como fama, idoneidade, etc. Às vezes exageramos sendo benevolentes com quem não merece. Para combater tal tendência, ter presente que a benevolência deve ser exercida a quem reparou ou restituiu o mal que haja feito. Não se deve ter benevolência para quem não pretende reparar o mal que tenha praticado contra os outros;
- Corrigir castigando ou doutrinando – Neste sentido o método mais perfeito é o de São João Bosco. Doutrinar deve ser o cotidiano, para formar o caráter da pessoa; ao procurar o erro devemos sempre seguir esta regra: primeiro, ensinar; segundo, admoestar; terceiro, admoestar com rigor ameaçando o castigo; e, por fim, quarto, castigar branda ou rigorosamente conforme a gravidade do erro e as atenuantes de quem errou.
Seria falsa, pois, uma Bondade que visasse somente o amor, a paciência, ouvir sempre, cortesia, repouso, gozo, perdão, benevolência para com todos, brandura em tudo. É preciso ver o outro lado da vida.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Recado de um bebê que está pra nascer

Para os que não sabem espanhol segue abaixo a tradução do vídeo acima:

Olá, me chamo Marta!
Levo 15 semanas na barriga de minha mãe.
Meu pai nos abandonou.
De maneiras que minha mãe está sem trabalho e sem mais família que eu.
Está muito triste... a ouço chorar muito...
As pessoas, os médicos, estão lhe dizendo o que tem que fazer...
...é abortar.
Podem me explicar o que é isso?
É que vão ajudar à minha mãe e a mim?
Obrigado!

Se o vídeo acima foi feito para combater o aborto, está mal feito; pois o bebê não manifesta nenhum instinto de defesa contra tal pensamento (que é manifestado apenas por estranhos e não pela mãe). No entanto, se o objetivo é propagar o aborto não está, propriamente, mal feito, mas pouco convincente. Colocamos ele aqui no blog porque mostra imagens de um ser humano vivo, como que falando, dando sinais aos que querem matá-lo que cometem um assassinato em todo o sentido da palavra se realizarem o aborto.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A bondade sertaneja (VI)

Princípio da bondade: as boas obras
Por: Juraci Josino Cavalcante

“Ao que tem fome dá teu pão, mas ao que sofre dá-lhe o coração” (provérbio chinês).

Seriam as boas obras o principal requisito de salvação? Parece que sim, pois Nosso Senhor no Juízo Final apenas indagará sobre elas: tive fome e me destes de comer, sede e me destes de beber, nu e vestiste-me, etc. Isto quereria dizer que as pessoas incapazes de praticar os mais elementares atos de bondade, como os acima citados, não se salvariam.
Na Igreja estas obras são denominadas “Obras corporais de misericórdia”: dar esmolas aos pobres, visitar os enfermos e encarcerados, dar pousada aos peregrinos, enterrar os mortos, dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede e remir os cativos. Quem passar toda a sua vida nesta terra e nada praticar disto poderá se perder, e quem o fizer se salvaria.
Outros entendem que ao afirmar “tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber”, etc, Nosso Senhor está se referindo também ao alimento espiritual e à sede da alma. Se ambas as assertivas são verdadeiras, a pessoa teria que praticar também as “Obras espirituais de misericórdia”: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, castigar os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do próximo e rogar a Deus por vivos e defuntos. Então, quem pratica os mais elementares deveres para com o próximo deve crescer em perfeição e cuidar também de praticar as obras espirituais de misericórdia sob pena de estagnar na prática da bondade.
Os exemplos que Nosso Senhor conta em suas parábolas no Evangelho são, em geral, de atos de misericórdia corporais, como a do bom samaritano. Ele mostra, também, um exemplo vivo, o da viúva pobre, que excede os corporais. O gazofilácio era a sala onde se guardava o tesouro do templo, mantido por diversas taxas prescritas por Moisés e doações voluntárias. Nosso Senhor pôs-se a observar, sentado em frente ao gazofilácio, as pessoas colocarem o dinheiro lá dentro. Chamou-lhe a atenção uma viúva que lá depositou uma pequena moeda e disse: “Na verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os outros que lançaram no gazofilácio, porque todos os outros deitaram do que lhe sobraram, ela porém deitou do seu necessário tudo o que tinha, todo o seu sustento” (Marcos 12, 42-44).
Quer dizer, a pobre viúva praticou um ato de bondade de natureza superior, espiritual e não corporal, pois fez um ato de renúncia de si mesma e de confiança na Providência divina ao depositar tudo o que tinha no gazofilácio. Maior ato foi praticado pelos Apóstolos e discípulos de Jesus que deixaram tudo para segui-Lo e cuja recompensa é grande: “Então disse Pedro: Eis que deixamos tudo e te seguimos. Ele disse-lhes: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha abandonado a casa, a mulher, os irmãos, os pais ou os filhos por causa do reino de Deus, que não receba muito mais já neste mundo, e no século futuro a vida eterna” (Lc 18, 28-30)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A verdadeira ecologia: a variedade na desigualdade da Natureza

Dentre seus rascunhos, encontramos mais este depoimento do Sr. Batista, desta vez sobre a ecologia e a desigualdade:
"Um novo pensamento: o verdadeiro amor à natureza se baseia na desigualdade da Criação.
Desde que eu resolvi escrever a História da minha vida, acho que dá para entender bem o que sou e o que penso. Mas, hoje, quando se aproxima o fim da minha caminhada, eu queria falar de um sentimento que guardei até hoje no íntimo do meu ser.
Talvez hoje devido a minha idade avançada alguém considere este assunto como uma espécie de arteriosclerose, mas isto não importa para mim - o importante é escrever o que penso e o que sinto; é o seguinte:
Desde o começo da minha vida, eu sempre tive muito apego às coisas da natureza. Mas, hoje, com a experiência que tenho, cada dia que passa eu descubro que as obras da natureza são também nossas irmãs, e comigo vem ultimamente vem acontecendo o seguinte: no meu quintal como vocês sabem tem vários pés de árvores, como goiabeiras, cajueiros, abacateiros, sapotizeiros, coqueiros e ateiras, e para mim estas fruteiras são consideradas como uma outra família que construí no decorrer da minha caminhada. Hoje eu sinto por esta outra família um apego, um amor, um carinho que não sei explicar, mas, quando me sinto triste, magoado, sem saber a quem recorrer, é a estas criaturas que eu recorro, fico alguns minutos abraçado ao meu cajueiro ou à goiabeira, e logo sinto aquela força e me sinto feliz: aquele perfume das flores, o menear das folhas é como se elas tivessem me acariciando, me dando muita paz e dali saía forte, aliviado e disposto a seguir a caminhada como se aquilo para mim fosse um alimento para o corpo, mas, principalmente para a alma, pois as coisas da natureza são criaturas criadas por Deus e são puras e sem mácula. Não sei se estou certo, mas, quero continuar assim até meus últimos dias, eu acho que tudo que Deus fez é bem feito, e nós devemos respeitar toda criação, seja a natureza humana, vegetal ou animal. Mesmo com as diferenças que há entre as criaturas, devemos aceitar e até amar, pois foi tudo criado por Deus, principalmente os seres humanos que Deus criou sua imagem e semelhança. Todos estes pensamentos fazem bem à alma e ao coração. Alguém luta pela igualdade, mas às vezes estes pensamentos estão errados e não agradam a Deus.
Um poeta já escrevia sobre a igualdade e dizia assim":
Para crer que existe Deus
Não precisamos demais
Do que olhar a nós próprios
E para os irracionais:
Tantos viventes que existem
E todos são desiguais!

domingo, 19 de outubro de 2008

A Bondade sertaneja (V)

A bondade humana encontra-se no coração
“Omni custodia serva cor tuum, quia ex ipso vita procedit” - Cuidai com toda a vigilância do teu coração, pois dele vem a vida. (Prov 4, 23)


Que significa “coração” ? O sentido que na Igreja os místicos e teólogos dão para a palavra coração, evidentemente não é o que diz respeito ao órgão carnal. Para eles o coração é o centro das atenções de uma pessoa, é o foco de seus desejos, de sua vontade, de seu querer. Assim, quando nos referimos ao Sagrado Coração de Jesus, ou ao Imaculado Coração de Maria, queremos nos reportar ao centro das atenções e dos desejos de Nossa Senhor e de Nossa Senhora. Pois não há nenhum outro órgão humano que mais se aproxime dos desejos do que o coração Muito mais do que sensações ocorrem com uma pessoa humana. Por exemplo, o querer, o desejo não provém do cérebro, mas da alma e a fonte do desejo, no homem, está muito bem representado pelo coração, que no caso é como se fizesse representar a alma humana. Existem algumas expressões que definem muito bem o coração humano: de “coração partido”, quer dizer quando a pessoa sofre contrariedades, quando tem sua vontade contrariada, isto “parte” o seu coração, isto é, seus desejos; de “coração ardente”: trata-se de uma pessoa que ama apaixonadamente, ardorosamente; “de coração”, é quando alguém faz algo de inteira vontade e desejo: fulano fez tal coisa, ou ama a outra, “de coração”, quer dizer, com toda a sua vontade: “coração solitário” é quando alguém vive isolado sem ter com quem compartilhe suas aspirações, seus desejos, etc.
Este conceito de que o coração é o centro da vontade, do querer, é confirmado por Nosso Senhor no Evangelho, quando diz: “Porque o coração deste povo se tornou insensível, os seus ouvidos tornaram-se duros e fecharam os olhos, para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e eu os sare” (Mt 13, 15), e “...as coisas que saem da boca, vêm do coração, e estas mancham o homem; porque do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as palavras injuriosas. Estas são as palavras que mancham o homem”. (Mt 15, 18-20). Da mesma forma os bons pensamentos, contrários aos que acima foram expostos, provêm de um bom coração, e produzem por sua vez boas palavras e virtudes nos homens.

Medicina popular nordestina

A Medicina Popular e Alguns Remédios Populares - É uma página da internet onde consta a relação de vários remédios e tratamentos populares realizados especialmente na população nordestina. Veja alguns, muito curiosos por certo:
AMEBA. Tomar, durante trinta dias, em jejum, um copo de água fria com três gotas de creolina.
ASMA. 1) Tomar chá feito com enxerto-de-passarinho. 2) fumar um cigarro feito com folhas secas de zabumba. 3) comer testículos de porco assados e sevidos sem sal. 4) Tomar fel de boi misturado com um pouco de cachaça. 5) Tomar chá feito com o chocalho da cobra cascavel. 6) Tomar chá de "olho" que tem na pena do pavão.
AZIA. Beber um copo d`água no qual foram colocados três pitadas de cinza fria.
BICHO-DE-PË. Depois de retirado o bicho-de-pé, com auxilio de um alfinete, encher a cavidade com sarro de cachimbo.
GALO. Quando o sapato é novo, o calo é uma certeza: 1) colocar sobre o calo cera-de-ouvido. 2) Pingar no calo cera de aveloz.
CATAPORA. Para a catapora acabar de sair ou sair ainda mais depressa, nada como tomar chá feito de cabelo-de-milho sem açucar.
CACHUMBA. Aplica-se, no local, um emplasto feito com lodo de carregar água da cacimba.
DEDO, PÉ ou BRAÇO DESMENTIDOS. Dar uma surra no lugar afetado com um saquinho de sal grosso.
DESMAIO. 1) Passar, dentro do começo do nariz da pessoa desmaiada, uma pena de galinha até a pessoa voltar a si. 2) Soprar nos ouvidos e bater na sola dos pés a pessoa tornar, volta a si.
DOENÇA-DOS-OLHOS. 1) Pingar, no olho doente, algumas gotas de leite materno. 2) Banhar os olhos com água onde se pôs uma rosa branca.
DOR-DE-BARRIGA. 1) Tomar chá feito com a moela de galinha, crua. 2) Comer uma banana prata verdosa. 3) Comer um pedaço de macaxeira branca, crua.
DOR-DE-CABEÇA. Colocar, sobre a testa, uma mistura feita com pó de café e manteiga.
DOR-DE-DENTE 1) Introduzir na cárie, se couber, uma cabeça de fósforo. 2) Encher a cárie com o pó feito de chocalho da cobra cascavel. 3) Encher a cárie com sarro de cachimbo.
DOR-DE-GARGANTA. Comer tanajura torrada, se for tempo de tanajura.
DOR-DE-OUVIDO. Botar, no ouvido que estiver doendo três gotas de leite materno.
ENJÔO-DE-GRAVIDEZ. Comer pombo bem assado, sem sal.
ENJÔO-DE-VIAGEM-DE-AUTOMÓVEL 1) Colocar uma castanha de caju no bolso, se for homem, ou na bolsa, se for mulher. 2) Mascar uma cabeça de fósforo.
ERISIPELA. Amarrar, no tornozelo, urna fita vermelha.
FURÚNCULO. Para o furúnculo estourar, por si só, nada com colocar no "olho" da cabeça-de-prego, um emplastro feito com o couro do bacalhau, cru.
GALO-NA-CABEÇA. Quando se leva uma pancada na cabeça e aparece um "galo" nada como fazer, sobre ele, forte pressão com a folha de uma faca fria.
HEMORRAGIA. Colocar, no local da hemorragia externa, para parar o sangue, um chumaço de algodão embebido em verniz de carpinteiro.
BEMORRAGIA-NASAL. Molhar a cabeça em água fria e ficar olhando para o céu durante cinco minutos.
HEMORROIDAS. 1) Sentar num pedaço de tronco de bananeira recém-cortado. 2) Colocar uma pela de fumo no local. 3) Colocar compressas de querosene.
HIDROCELE ou ÁGUA-NAS-PARTES. Ferver a água necessária para quase encher uma bacia de tamanho médio em que se tenha colocada uma caixa de charutos vazia, para que o doente se acocore e possa tomar banho do vapor.
IMPINGEM. 1) É bom cobrir a impingem com tinta de escrever. 2) Esfregar a impingem com pólvora de caçador.
INDIGESTÃO. Chá feito com a pele que envolve a moela de uma galinha, crua.
JÁ-COMEÇA ou COCEIRA. Tomar banho com o cozimento de maxixes, sem camê-los.
LOMBRIGA. Comer coco seco raspado, em jejum até aborrecer.
MAL-DOS-SETE-COUROS. Passar, no local, sebo de carne-do-ceará, bem quente.
MIJAR-NA-CAMA. Nada como dar umas capadas na criança com um muçu vivo.
MORDIDA-DE-COBRA. Tomar meia garrafa de querosene e comer um prato de farofa com bacalhau assado na brasa.
MULHER-MANINHA. Para que a mulher venha a ter filhos: 1) Tomar água antes de ter relações sexuais. 2) Dar ao marido, todo dia, no almoço, carne de carneiro preto, com um copo de vinho.
PANOS-BRANCOS. Lavar o rosto ou a parte afetada pelos panos brancos, com água da chuva caída na hora.
PRISÃO-DE-VENTRE. Tomar chá de cupim.
QUEDA-DE-CABELO. Pentear os cabelos com um pente feito de chumbo.
SOLUÇO. Pregar um susto à pessoa que estiver com soluço.
TERÇOL. 1) Engolir nove caroços de limão durante três dias seguidos. 2) Esfregar, no chão, a semente de olho-de-boi e depois colocá-la sobre o olho onde está localizado o terçol.
TRIPA-DE-FORA (Prolapso do reto). Sentar a pessoa acometida do mal em um pedaço de tronco de bananeira cortado na hora.
UMBIGO-CRESCIDO-DE-RECÉM-NASCIDO. Chá de cabelo-de-milho.
URINA-PRESA. Fazer um chá do talo do jerimum, seco e torrado. 2) Chá de alpiste.
É assim que o nordestino pobre procura, quando está doente, ficar bom para que possa cuidar do seu roçado, do seu trabalho. É assim que o imaginário popular sempre caminhou, de mãos dadas com o sonho da saúde e da cura.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Bondade sertaneja (IV)

Na sociedade perfeita, como devem se comportar os bons
“Eu dormia quando sonhava que a vida feliz consiste em gozar; acordei quando verifiquei que o gozo da verdadeira felicidade consiste em servir”. (anônimo).

Um dos princípios primordiais da perfeição cristã, que é a prática da Bondade, encontra-se nesta frase do Evangelho:
“Vós sabeis que os príncipes das nações as subjugam e que os grandes as governam com autoridade. Não será assim entre vós, mas todo o que quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo; e o que quiser ser entre vós o primeiro, seja vosso escravo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para redenção de muitos” (Mt 20, 25-28).
Nisto consiste a felicidade aqui na terra: servir ao próximo. Servir, dedicar-se, imolar-se, e renunciar a tudo em benefício dos outros, eis a verdadeira felicidade. Muitos pensam que a felicidade consiste em ter tudo. Pelo contrário, ela consiste em que se dê tudo e por inteiro.
Vejamos um exemplo, também tirado do Evangelho. Um jovem rico, que praticava uma certa bondade, sentiu em seu coração desejos de atingir graus maiores de perfeição e foi ter com Nosso Senhor para que Ele lhe instruísse. Note-se que o jovem se dirige a Jesus Cristo O chamando de Mestre: “Eis que, aproximando-se dele um (jovem), disse-lhe: Mestre, que hei de eu fazer de bom para alcançar a vida eterna? Jesus respondeu-lhe: Por que me interrogas acerca do que é bom? Um só é o bom”. Sim, por que perguntar que se deve fazer de bom? Porque havia em seu coração desejos de bondade, postos pela graça de Deus.
Quer dizer, Bom só Deus, a Perfeição última da Bondade. Mas havia uma maneira humanamente possível de ser bom como Ele: a prática de seus Mandamentos: “Porém, se queres entrar na vida, guarda os mandamentos. Quais? perguntou ele. E Jesus disse: “Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não dirás falso testemunho. Honra teu pai e tua mãe, e ama o teu próximo como a ti mesmo”. Este é o princípio elementar de qualquer bondade, o primeiro e básico, ou os dois primeiros graus referidos acima.
Mas isso aquele jovem já julgava que praticava a contento e por isto foi adiante, pois tinha desejos de maiores perfeições: “Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isso desde a minha mocidade. Que me falta ainda?” Sim, o que é necessário para ser mais perfeito? O que resta para atingir um grau de bondade maior? Ao fazer a pergunta aquele jovem dá a entender que recebeu uma graça interior de desejar maior perfeição. “Jesus disse-lhe: Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e (depois) vem e segue-me. O jovem, porém, tendo ouvido esta palavra, retirou-se triste, porque tinha muitos bens.” (Mt 19, 16-22).
Por esta ele não esperava. Seus sonhos de perfeição esbarravam num enorme obstáculo, seus bens, e ele nunca imaginava que a renúncia deles era um passo maior para ser mais perfeito, atingir uma bondade mais alta. Vejam que no conselho de Nosso Senhor a bondade deverá ir sempre aumentando, a fim de atingir o último grau:
- Primeiro passo: vender tudo o que possui. Isto requer uma total renúncia aos bens terrenos, um total desapego ao gozo deles e uma grande confiança na Providência divina. Uma pergunta deve ter lhe assaltado: de que viverei eu, então? Nem se fala por enquanto na boa ação que ele faria aos pobres, isto vem depois. O primeiro passo dado é em benefício da própria alma ao praticar as virtudes heróicas acima: desapego aos bens, combate ao vício da avareza e confiança em Deus;
- Segundo passo: entregar aos pobres o produto da venda de seus bens. Pois só vender não seria suficiente para atingir um grau maior de bondade. Se ele vendesse e ficasse com os frutos da venda de nada adiantaria, pois com aquele dinheiro ele tornaria a adquirir tantos bens desejasse;
- Terceiro passo: vem (toma a tua cruz) e segue-me. Depois de vender tudo e dar o dinheiro (ou o fruto da venda) aos pobres, ainda assim não estaria completa a senda em busca da perfeição. Mais difícil do que isto seria ainda tomar a própria cruz, as incertezas do futuro, o sofrimento, o desamparo, a possível falta de socorro material. Mais difícil ainda seria seguir a Nosso Senhor, porque teria que enfrentar a opinião dos dominantes, teria que vencer o respeito humano, tornar-se amigo e seguidor daquele Homem tão odiado dos fariseus e quejandos para sofrer junto com Ele as perseguições que viessem. E estar preparado para morrer crucificado: aí estaria o máximo da perfeição, o último grau da bondade, que seria o martírio. O martírio como ponto alto de se ter doado e servido.
O jovem rico, ao ouvir tal conselho, saiu triste dali porque não era este o seu ideal de perfeição, não era assim que ele entendia a Bondade. Pensava talvez ele que havia um meio de acomodar sua vida apequenada e mesquinha com os mais altos desígnios de Deus e assim pudesse se salvar. E por causa disto, Nosso Senhor completou em seguida: “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. Digo-vos mais: É mais fácil passar um camelo pelo orifício de uma agulha, que entrar um rico no reino dos céus” . Para não deixar os bons ricos desesperados, Nosso Senhor deu-lhes este consolo: “Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível”.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Bondade sertaneja (III)

Por: Juraci Josino Cavalcante

Um homem de Deus
“Justi fulgebunt sicut sol in regno Patris eorum” – Os justos resplandecerão como o sol, lá no Reino de meu Pai. (Mt 13, 43).

Toda a vida do Sr. Batista resume-se numa filosofia: a prática da bondade. Embora ele não soubesse definir que filosofia fosse esta, que espírito era este que o animava, no entanto ao se analisar seu comportamento, sua maneira de viver, seus pensamentos, sua Fé, tudo se resume nisto: a prática do Bem. Segundo conta em suas reminiscências, ainda criança e sua mãe o ensinara a rezar, instilando em seu inocente coração a noção primeira de piedade. Perdendo sua mãe ainda muito jovem, pois tinha ele apenas 12 anos quando ela faleceu, recomenda-se a Nossa Senhora e passa a adotar a Virgem Santíssima como sua Mãe. E Ela o protegeu de forma extraordinária. Contava ele a um dos filhos que um dia, quando já era mais crescido mas ainda solteiro, foi levado por um parente a uma casa de perdição. Não sabia para onde o levava, mas quando descobriu que ambiente era aquele recusou lá entrar e, interiormente, pediu à Sua Mãe Santíssima que lhe protegesse e desse forças para resistir àquelas tentações. Foi atendido e conseguiu haurir forças para resistir aos assédios sensitivos da carne. Por isto foi abençoado pelo resto da vida, com um casamento santo e uma prole muito cheia de graças divinas. Por isto compôs aquela poesia com o mote “Nasci predestinado para ter uma família unida”. Nisto consistia a maior parte de sua bondade.
É preciso que esteja bem definido em que grau o Sr. Batista praticou esta bondade. Para isto vamos explicar um pouco, abaixo, no que consiste esta bela virtude ou modo de viver.

O que é a Bondade?
“A Bondade é a efusão de si nos outros. Ser bom é pôr os outros em lugar de si próprio”. (Pe. Faber, citado por Dom Chautard).

Segundo São Tomás de Aquino somente Deus tem a Bondade completa, perfeita. Mas o homem pode ser Bom na medida em que participa da Bondade divina, daí ser possível ao homem praticar certa Bondade, isto é, ser perfeito como Deus Pai que está nos céus. Isto está nos Evangelhos.
Neste sentido a Bondade significa perfeição. É a virtude que faz o homem cumprir o seu fim último: tornar-se perfeito e cumprir sua missão.
Mas há um outro sentido de bondade, é aquele que faz as pessoas pensarem que ser bom é não incomodar os outros, não fazer com que as pessoas sofram. No dizer do escritor francês Montesquieu, “talento e bondade significam suprimir de si tudo aquilo que poderia incomodar os outros”. Não estamos falando deste tipo de bondade, mas daquele primeiro.:
Sendo assim, existem vários tipos de bondade ou de homens bons. Os primeiros são os que não praticam o mal, mas que, todavia, com pouco cuidado se exercem em boas obras. Convivem pacifica e quietamente com seus semelhantes, não ofendem a ninguém e não provocam escândalo por más obras.
Se perguntarmos às pessoas se praticam tal bondade, a grande maioria dirá que sim. Costumamos qualificar de bons aqueles que são afáveis em seu modo de viver e sociais para com todos, embora, por outro lado, sejam assaz desidiosos quanto à prática das virtudes ou do cumprimento de seus deveres.
Em segundo lugar teremos aqueles que além de não praticarem más ações, se exercem freqüentemente em boas obras: na sobriedade, na castidade, na humildade, na caridade fraterna, na assiduidade de oração, no amparo aos necessitados, etc. Para este tipo de gente, basta-lhes exclusivamente velar, rezar, dar esmolas, jejuar, trabalhar por Deus e outras coisas semelhantes.
Há outros que superam os anteriores, são os que evitam o mal e praticam assiduamente o bem ao seu alcance, e, depois de haverem feito todo o possível, julgam ter feito pouco, em comparação com o que desejavam e anelam ansiosamente possuir as virtudes da alma e o sabor da devoção interior, o familiar conhecimento de Deus, a percepção do seu amor, julgando que não são nada e nada têm. Procuram atingir sempre uma perfeição maior, não se contentam apenas em evitar o mal e praticar o bem. Deste modo, a bondade humana tem hierarquia: ela vai daquela que consiste em simplesmente não fazer nada de mal até o grau de interessar-se pelos outros, exercendo um trabalho social de bondade coletiva.

Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém

domingo, 12 de outubro de 2008

A Bondade sertaneja (II)

Por: Juraci Josino Cavalcante
Deus resolve chamar o bom filho para a Casa Paterna
“Os felizes pouco conhecem da vida: a dor é a grande mestra dos homens”. (Anatole France).

No dia 27 de setembro a Igreja comemora a festa de São Vicente de Paulo, conhecido como o Apóstolo da Caridade. Todo ano os vicentinos fazem uma festa naquela data, sendo que nos últimos tempos as comemorações têm tido o caráter mais risonho e divertido. Na mesma data se comemora o “Dia do Ancião”.
O Sr. Batista participava alegremente das comemorações de tais festejos em 1994, quando foi fotografado e teve sua foto publicada por um jornal de Fortaleza juntamente com uma reportagem sobre o evento. Na oportunidade, perguntado se considerava-se um “velho” respondeu que, embora estivesse para completar 83 anos, tinha boa saúde física e sua mente era como a de um jovem de 18 anos, alegre, divertido e festeiro. A idéia transmitida pelo jornal, corroborada pela foto e pelas declarações do Sr. Batista, era de que os anciãos deviam levar o resto da vida como se esta não estivesse para acabar e como se fossem ainda jovens e considerassem esta vida só destinada aos prazeres terrenos (v. págs. 121/122 adiante).
Com vaidade, o Sr. Batista mostrava o jornal a seus amigos e parentes. Chega em casa e se determina a levar a mesma vida de sempre. Uma de suas maiores demonstrações de vitalidade, que ostentava habitualmente, era o fato de subir nas árvores de seu quintal para tirar frutas. Ora subia num pé de cajueiro, ora num coqueiro (este, por uma escada), ora até mesmo numa goiabeira. Já ocorrera anteriormente de haver caído de uma goiabeira, cujo galho se quebrara, mas do susto que levara vivia se rindo e contando o caso de uma forma engraçada. Dizia ele que, estando sobre as galhas da árvore, começou a contar quantos vizinhos e amigos seus já haviam morrido, enquanto ele permanecia ainda vivo e subindo em goiabeiras. Quando sua contagem estava no nono, a galha se quebra e ele se despenca com ela até ao chão. Em meio do caminho dá um grito: “Lá vai o décimo!”.
E foi esta a forma que Deus escolheu para lhe mostrar o quanto estava enganado a respeito de sua vitalidade e de sua saúde. Foi subindo em pé de árvore, sim, num cajueiro, que ele começou a sentir os primeiros sintomas da doença que o levou à morte. Inicialmente deu-lhe uma fisgada, uma dor, que o fez descer imediatamente da árvore. Mas, melhorando um pouco quando estava embaixo, resolveu subir de novo. Pela segunda vez, a dor volta e ele desce novamente. Duas vezes pode ser considerado normal, mas a terceira subida já foi teimosia. E ele subiu na árvore pela terceira vez... Resultado, a dor se repete mais intensa e o Sr. Batista já desce resolvido a se resignar com uma situação que ele julgava difícil: estava doente e algo de estranho ocorria com aquela dor terrível que logo o prostrou na cama.
Foram quase quatro meses lutando contra a doença, até o falecimento em 21 de janeiro do ano seguinte. Uma das características de sua bondade era que, quando via a mão de Deus, resignava-se facilmente, arrependia-se e falava francamente a todos de seus defeitos e de suas fraquezas. Tudo o que narramos acima foi contado por ele, acamado e bastante doente, frisando em seguida o quanto estava arrependido daquele orgulho vão de julgar-se forte e de espírito ainda jovem. Dizia assim: “Deus deu-me esta doença para mostrar-me o quanto eu estava enganado a respeito de minha jovialidade e saúde. Eu vivia dizendo que tinha saúde e força para subir em árvores, para andar para qualquer lugar, se divertir, etc. e falava tudo isto com muito orgulho. Agora vejam em que estado me encontro”.
Em suas reminiscências, assim se expressa o Sr. Batista sobre sua disposição bondosa de sempre se arrepender de seus erros: “A fé na minha vida tem sido muito importante, mas quero deixar bem claro que falo de devoção e de fé, não querendo dizer que durante minha vida não tenha cometido erros, às vezes gravíssimos. Só que, depois da queda, sempre me recolhia à condição de mísero pecador, com muita confiança em Maria Santíssima e no Seu Filho Jesus.
Peço perdão das minhas faltas: este proceder tem me ajudado a vencer todos os obstáculos da vida.
Até hoje, diante de qualquer perigo vem logo no íntimo aquela confiança, e enfrento a tudo e a todos com destemor”.
Pela conversa que tinha com todos que o visitavam em seu leito de dor, sentia-se o quanto ele estava arrependido. E o demonstrava a todos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O filho que eu quero ter

Paulinho da Viola gravou esta canção na década de 80, no disco "Arca de Noé n. 2", onde fala sobre o desejo de ter um filho. Esta canção deveria agora ser repetida, regravada e divulgada, neste momento em que se fala tanto contra a natalidade e os bebês

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Bondade sertaneja (I)

Homenagem póstuma a um varão católico
Por: Juraci Josino Cavalcante

“Pretiosa in conspectu Domini mors sanctorum eius” – Quão preciosa no conspecto do Senhor é a morte dos justos (Sl 115, 5).

21 de janeiro de 1995, num sábado, dia de Santa Inês, o Sr. Batista havia falecido numa UTI de hospital. Toda a família, triste e pesarosa, foi avisada do falecimento. No dia seguinte seria o enterro. Da Bahia, veio Jurací e sua família; de Olinda, o Netinho e sua esposa já estavam presentes. Lá estavam a esposa, os filhos, os netos, os bisnetos, sobrinhos, etc. Faltava um, o “Toinho”, que morava também na Bahia, mas por causa da grande distância estava demorando a chegar. Era necessário retardar um pouco a saída do féretro, com o que todos concordaram.
Cada família mandou fazer sua coroa de flores, onde constava a homenagem póstuma ao humilde patriarca falecido. Não faltaram os seus confrades vicentinos, nem tampouco os católicos com quem convivia em sua paróquia, inclusive muitos daqueles que ele assistira caridosamente ora levando o conforto material ora o espiritual (era ministro da Eucaristia). Seus filhos e parentes estavam cheios de azáfamas: alguns se encontravam envolvidos nos preparativos para o enterro, providências daqui e dali, telefonemas, etc. Outros, voltados mais para as coisas do espírito, procuravam rezar com os visitantes. Ora um vizinho puxava um mistério do terço, ora um filho da casa, ora uma outra pessoa que se oferecia na hora.
É de se notar que poucos choravam e não havia gente com comportamento de carpideiras. Quando surgia um parente ou amigo que chegava de longe, aproximava-se de D. Raimunda e esta logo se desfazia em lágrimas, mas um pouco influenciada pela emoção da visita. Em poucos instantes, porém, ela já se consolava, até chegar mais alguém... Chegava a Tia Telina, a Tia Antonia (ou Tia Toinha), tios e tias, sobrinhos, netos, bisnetos... E a casa se enchia de gente, parentes, amigos, vizinhos. Uma parente fazia chá constantemente para dar aos mais tristes e assim acalmá-los. Mas não se via ninguém com óculos escuros, como soe acontecer em enterros ditos "sociais", onde as pessoas procuram esconder suas lágrimas, os olhos avermelhados, ou então para que ninguém veja a secura dos mesmos e não se saiba que não chorou.
Não, nada disto se notava naquela modesta família. Chorava-se, sim. Era um soluço ou alguns soluços, espaçados por alguns choros mais copiosos, mas logo uma alma generosa, uma pessoa dotada de piedade católica, convidava todos para a oração, puxava-se de um terço, e em breve os soluços eram abafados pelo som da oração contrita e piedosa. Era mais necessário rezar do que chorar. O esquife aberto, mostrava o corpo do Sr. Batista estendido, olhos fitos no alto, nariz adunco, com as mãos postas. Vendo-o assim, motivo para meditações sobre os Novíssimos do homem, a tônica que imperava naquelas pessoas era o espírito de oração, pela alma dele, e por nós também.
As mãos dele tiveram de ser amarradas para que ficassem postas na posição de oração. Explicaram o porquê. O Sr. Batista sofreu muito em sua agonia e morte. Provavelmente foi martirizado, holocausto hoje muito comum nos doentes idosos. Teria sido vítima de infecção hospitalar? De imperícia médica? Ou do descaso com que hoje tratam os idosos? Não se sabe, mas o certo é que, internado na UTI, num ambiente inteiramente pagão e materialista, tiveram que prender suas mãos à cama para evitar que tentasse tirar as agulhas dos soros e dos aparelhos ligados. Provavelmente, na agonia, lutou para desvencilhar-se das cordinhas que amarravam seus pulsos. Por isto suas mãos estavam inchadas, roxas, e impedindo que ficassem naturalmente “de postas” como costumava rezar quando era vivo. Corpo empertigado, nervos hirtos e sem mais ter como flexioná-los, só houve um meio de por suas mãos postas, em posição de oração: amarrando-as.
Ao meio de uma das orações, chega finalmente o Toinho. Abraça a mãe, os irmãos, o filho, recebe as condolências dos parentes e amigos e se posta perante o caixão mortuário contemplando o seu bondoso pai, ali jazente, estático, frio, roxo, de olhar embaçado e perdido no infinito: já não mais vê, não mais ouve, não mais sente, não mais vive, sua alma foi encontrar-se com Deus para o primeiro julgamento, o juízo particular. Só restava àquele filho, como aos demais, pedir a Deus por sua alma, a fim de que tivesse alívio no Purgatório e gozasse logo da glória eterna no Céu.
Chegou o horário da saída. Não há convulsão, não há gritos nem histerismos. Os homens pegam o caixão pelas mãos, devidamente fechado, e começam a levá-lo para o veículo que o conduzirá até o cemitério. Quando tudo está pronto, D. Raimunda já tendo rezado e dado uma espécie de adeus a seu esposo, alguém diz a ela que fique em casa e não vá ao cemitério: é melhor, para não sofrer mais. A reação dela foi imediata: “nada disto! Eu vou também; e quero ir no carro da frente!”. Foram os vizinhos que se preocuparam em cuidar da casa, que ficaria sem ninguém. E realmente ela foi no carro que seguia logo após ao da funerária, no banco dianteiro, rezando silenciosa. Sua alma era a de uma sertaneja, “antes de tudo forte” como diria Euclides da Cunha, mas sua fortaleza estava mais em sua Fé, em sua Religião, em sua piedade e sua catolicidade. D. Raimunda mostrou-se forte porque sempre foi católica e conformada com a vontade de Deus. Esta sua fortaleza ela já o demonstrara na morte de sua mãe, de seu pai, e de três de seus filhos, um com apenas 2 anos e dois já adultos, com 25 e 33 anos. Agora chegara a vez de seu esposo, e ela estava ali altaneira, fitando-o, sem descabelamentos, sem histerismos, sem choros convulsos e insensatos, contrita, conformada e rezando por ele.
Chegamos à capela do cemitério, onde se faria a encomendação do corpo e se rezariam as últimas orações enquanto se preparava a cova. Tudo em ordem, em meio silêncio, com respeito e piedade sinceros. Terminadas as orações, marcha-se com o caixão por entre as ruelas cheias de túmulos, um féretro a pé por entre os arvoredos, algumas pessoas rezando ainda, até o local. A cova estava aberta e os coveiros, com suas pás, aguardando o momento para cumprir seus deveres. O caixão desce, há muito respeito e silêncio pelo momento. D. Raimunda pede uma das pás de um coveiro e, com calma e serenidade, joga a primeira pá cheia de areia sobre o caixão depositado no fundo da cova. Os outros a seguem, tanto os filhos quanto os parentes, cada um calmamente, como se aquilo fosse uma solenidade de adeus, um ritual, lançando a sua pá de areia em cima daquele que fora esposo, pai, avô, bisavô, tio e sobretudo, irmão, Irmão com "I“ maiúsculo, pois faleceu irmanado na mesma Fé: a crença e vivência na Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana.

Exibição de arte e precisão com motorbikes

Cure sua dor de cabeça pensando em seu prato favorito