quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Bondade sertaneja (XIV)

(Damos sequência às nossas homenagens ao "seu" Batista):


Acima de tudo, a felicidade dos filhos
Quando um filho lhe pedia a bênção ele respondia sempre a mesma coisa: “Deus lhe faça feliz!”, diferentemente do geral dos pais de seu tempo que abençoavam os filhos dizendo: “Deus lhe abençoe!”
Certa feita escreveu uma carta para um de seus filhos, onde se destaca o seguinte conselho: “Meu filho, nesta carta não quero falar de mim e sim de você. Vou falar sobre a sua vida conjugal, espero que você compreenda a minha preocupação, eu sei que você tem alguns problemas de ordem conjugal, mas quem é que não tem?
“Mas o que fazer? é aceitar a nossa cruz com resignação, e sempre nas orações rogar a Nossa Senhora que abençoe o nosso lar e nos ilumine nos caminhos que devemos seguir. E com a fé venceremos.
“Preservar a união no lar é tarefa que Deus espera de nós, o importante é quando a gente cair procurar sempre levantar-se de novo...”
Este último conselho era uma filosofia de vida que ele vivia integralmente: sempre que caía procurava levantar-se, arrepender-se e recomeçar a vida...
Não era só para dar conselhos que ele escrevia, mas também para agradecer a bondade que os filhos procuravam praticar como ele o fazia. Em outra oportunidade, dirigiu a seguinte mensagem ao mesmo filho acima referido: “...Você não imagina como me sinto feliz saber que você é temente a Deus, pois você reconhece que só através da Fé poderemos alcançar a salvação eterna. O seu pensamento me ajuda a vencer os obstáculos que se apresentam diariamente na minha vida, apesar da minha Fé e esperança que tenho em Deus e na Santa Virgem Maria, a quem recorro diariamente. Mas tem horas que me sinto pequenino demais para merecer a proteção divina, pois sou assaltado pelo demônio todos os dias de minha vida. Mas com a ajuda de Deus cada vez que caio procuro me levantar. Nesta vida terrena não tenho quase nada a pedir, somente agradecer. Todas as vezes que rezo por todos meus filhos é pedindo pela felicidade de todos. Quando falo de felicidade Deus mais do que nós sabe o que é a verdadeira felicidade...”
Era a constante de suas preocupações: ver sua família feliz. Esta filosofia está resumida na poesia que compôs sob o mote “Nasci predestinado para ter uma família unida”. Em outra oportunidade, sentindo dificuldades em conversar com um filho que morava na mesma cidade, escreveu-lhe em forma de carta alguns conselhos. A certa altura aconselhava: “(fulano), preste muita atenção o que vou escrever nestas páginas, são palavras que estavam guardadas dentro de mim esperando a oportunidade de te falar, e que por motivos diversos, nunca te falei. Talvez por comodismo ou falta de oportunidade, e nisto o tempo vai passando e o meu sonho não se realizava...
“Meu filho! todos nós, eu e sua mãe, os seus irmãos, todos gostamos muito de você, todos desejamos a sua felicidade, mas para realizarmos este ideal, tudo depende única e exclusivamente de você querer mudar de vida...
“(fulano), eu e sua mãe sentimos um verdadeiro carinho por você e queremos ver você feliz.
“Meu filho! eu lhe peço por tudo quanto é sagrado, por nossa mãe Maria Santíssima, procure ver a realidade, não sei se você leu na Bíblia a história do filho pródigo; pois você está fazendo o mesmo papel do filho pródigo, abandonando o seu lar, a sua família, o lar paterno que é uma das coisas mais sagradas que existe na face da terra; e o que é mais perigoso é que você está se afastando de Deus. Aos poucos você vai destruindo sua vida, tanto material quanto espiritual.
“Meu filho! sem Deus nós não somos nada, não valemos nada, também não temos nada, tudo nesta vida terrena é baseado na fé na esperança em Deus que nos dá tudo e só espera de nós a obediência.
“(fulano), você está trocando tudo que você tem de mais sagrado na sua vida por uma coisa irreal que faz destruir a sua vida material, e principalmente espiritual, abra seus olhos, veja que você está mergulhado num mar de lama. Pelo amor de Deus! evite o papel do filho pródigo. Volte para seu lar, para o seio de sua verdadeira família e conquiste a sua confiança, no seu emprego, na família, na sociedade, nos amigos, e acima de tudo a confiança em Deus”.
O conselho vai descer a detalhes. Ele não se contenta nas generalidades. Pede que o filho reconheça o próprio erro, abandone a pessoa que lhe leva a ruína e mude de vida. Depois de tudo se oferece para ajudar:
“Olhe, eu tenho uma proposta, se quiser a gente constrói aqui no nosso quintal um quarto grande com 6 metros de comprimento por 4 de largura e você ficará aqui uns tempos até normalizar a sua situação. Pense bem na minha proposta...” No final uma recomendação a título de “Post Scriptum” :
“(fulano), leia esta carta com muita atenção, medite sobre cada palavra e não precisa responder nada, basta agir com a sua consciência...”.
O tempo passa e os problemas daquele filho se complicam. Um outro filho do Sr. Batista jazia doente num leito do Hospital das Clínicas em São Paulo. O pai estava lá acompanhando-o e dando-lhe toda a assistência possível. Quando o drama estava perto do desenlace fatal (o Jair veio a falecer em 6 de dezembro de 1979), D. Raimunda, que não queria ficar alheia ao sofrimento do esposo e pai, vai lhes fazer companhia, com toda a sua forte alma também sertaneja e com todo o seu amor de mãe e esposa, tentando minorar aquela dor. Estavam lá quando aquele outro filho (objeto da carta acima) resolve escrever ao seu pai nos seguintes termos: “Papai, estou lutando contra todos os meus defeitos, para poder um dia ser aquilo que o senhor sempre desejou que eu fosse...
“Nunca deixarei de agradecer a Deus por ter me dado um pai tão maravilhoso como o senhor, um pai que dar a própria vida para salvar a de seu filho.
“Papai, isto é uma coisa que jamais e em tempo algum esquecerei, e tenho certeza que Deus estará sempre em seu coração, lhe dando forças para lutar contra todo este mal que nos persegue, mas tenho certeza que tudo vai dar certo.
“Quanto ao problema do meu comportamento, pode ficar tranqüilo pois sei que esta é a única maneira que tenho para compartilhar com este sacrifício que nós estamos passando...” Quer dizer, não era preciso responder a carta que recebera lhe dando conselhos. Mas como o pai viajara para São Paulo e passava por muitas atribulações com a doença do Jair, o outro filho resolve lhe responder para informar que resolveu ouvir suas recomendações. Pelo menos aparentemente o pai foi ouvido, não foram inúteis seus conselhos