segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Minhas origens (IV)

Primeiras letras
Em 1923 minha mãe morreu de parto, eu contava doze anos, e dois anos depois, em 1925, meu pai casava-se de novo, com uma moça velha, de gênio muito forte, que chegava a ser agressivo: mas mesmo assim tornou-se minha amiga.
Aos treze anos, já órfão de mãe, por minha conta entrei para uma escola particular: o professor, Zeca Laurindo, era compadre de meu pai e ensinava em sua residência.
Iniciei no começo de julho daquele ano (1925), com algumas noções adquiridas de meu pai que sabia um pouco ler, escrever e contar. Eram meus colegas de estudo, “Mocinho” e “Tico Pequeno”, ambos filhos do professor; os outros, na maioria primos destes, todos da família Holanda: os filhos da minha madrinha Amália, dois rapazes e duas moças, Sinhá e Nazinha, Pedro Holanda e Pita; os filhos de Sobrinho Holanda, Pedro, Chico, Tião e Valmir, e duas moças, Francisquinha e Jovina; os filhos de Mariinha Bilino, Antônio, Zeca, Laurindo e João Bilino; os filhos de Chico Nunes, Antônio Nunes, João Nunes, e os mulatos Manoel de Sales e Elizeu de Martinha; e ainda dois pretos, filhos de Bastião Velho e Catirina, Roberto e Cristalino. Este casal, Bastião Velho e Catirina, era caseiro dos meus padrinhos, Antônio Melo e Amália Holanda. O professor cobrava de cada aluno cinco mil réis por mês, mas como pagar se não trabalhava, nem tinha do que apurar? O meu pai não se interessava muito pelos estudos dos filhos, o que era muito natural naquela época difícil; mas eu queria estudar a qualquer custo. Foi assim que empreitei com um vizinho para encoivarar um roçado por sete mil réis, pensando: “Dá para pagar a minha aula e ainda restam dois mil réis”.
Encoivarar o roçado era o seguinte: o dono da terra tocava fogo no roçado, que não queimava todo, ficando muitos garranchos espalhados, então o meu serviço era juntar aqueles galhos restantes e tocar fogo, deixando a terra limpa no ponto de plantar.
Quando terminou o mês de julho de aula eu paguei os cinco mil réis, mas não continuei pois no mês seguinte não tinha esperança de dinheiro para pagar. No entanto, graças a Deus, nos trinta dias de estudo eu aprendi a ler, escrever, tirar conta de somar, diminuir e multiplicar. Continuei estudando em casa com meu pai: ele não tinha sossego comigo pedindo-lhes pra ensinar-me.
Em 1926 freqüentei mais um mês a mesma aula com o mesmo professor. Desta vez consegui ler até o quarto livro de leitura de Felisberto de Carvalho e também um livro manuscrito de Salvador de Mesquita, aprendendo também as quatro operações de contas e mais alguns problemas de juros, pesos e medidas e regra de três simples. Em português continuava muito atrasado, pois até mesmo o professor sabia pouco. De geografia e história adquiri ainda pequenas noções.Em 1927 fui para Mossoró e lá freqüentei uma aula à noite com uma professora, da qual não lembro o nome, sendo que nesta passei somente vinte dias, mas quando a deixei estava um pouco melhor em português, pois foi matéria que muito me interessou

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