terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um comerciante em apuros (III)

Um desconhecido

Nove da noite. Raimunda, cansada da labuta diária, encerrava o expediente. Estava fechando as portas quando chegou um desconhecido que queria fazer umas compras. Habituada a lidar com embriagados, não lhe foi difícil adivinhar que estava diante de um. Por isto procurou atendê-lo por cima de uma meia-porta, entregando, meio desconfiada, o que pedira. Porém, não satisfeito, pediu uma dose de bebida. Mas ela, percebendo que poderia ser enganada, negou-lhe a pretensão e passou a exigir que pagasse a conta. De má fé, o homem, fingindo-se mais embriagado, começou a botar os forros dos bolsos para fora, como a procurar algum dinheiro. Mas ela, não se dando por vencida, arquitetou um plano para evitar o iminente prejuízo: pediu-lhe os embrulhos para que tivesse as mãos livres pra achar o dinheiro. De posse de sua mercadoria, bateu-lhe a porta na cara, pensando que assim estava livre do malandro. Ora, ora, muito triste engano, o ludibriado ficou endiabrado: começou a gritar e dar pontapés e murros na porta. Raimunda, sozinha, com um punhado de crianças, percebendo o perigo que corria, pôs-se a gritar por socorro. O Sr. Teles, um nosso vizinho, que ouvira parte da confusão, chegou correndo, trazia um porrete já engatilhado, disposto a experimentá-lo no importuno. Mas, felizmente, como o tal não era de apanhar por pouco, desapareceu, pra nunca mais.
Assim, começava uma vida de grandes aventuras, onde este caso era o primeiro de uma série, pois o comércio foi durante muito tempo o meu grande sonho.

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