segunda-feira, 31 de março de 2008

UM COMERCIANTE EM APUROS (XXIV)

O Evangelista

Um dia fui me confessar
Era no fim de semana
Vi um cálice na igreja
Perguntei: aí tem cana?
[1]

Nessa fase do meu comércio eu era visto como um bom samaritano, motivo pelo qual boa parte dos vizinhos me convidava para ser padrinho de seus filhos. Portanto o personagem em destaque entrava nesse rol, éramos compadres.
Construtor civil, gostava muito de “morder a batata” e, um detalhe, quando estava sóbrio conversava muita asneira. Mas... embriagado? Ah, era intolerável e metido a valentão.
Aconteceu num sábado, estava de folga e cheio da nota. Apareceu à noitinha e ficou bebendo, dentro do seu habitual.
Comerciante já por profissão, sentia a necessidade e obrigação de atender bem todo tipo que aparecesse, e nesse caso a obrigação se acentuava por se tratar de pessoa de minha relação familiar.
Noite alta, entra um desconhecido, moreno, alto, também com aparência de embriaguez, porém muito calmo. Pediu uma bebida, tomou, pagou e foi saindo sem dar atenção ao meu compadre. O Evangelista acompanhou-o e, após ligeira discussão, na qual agredia com palavras o outro, aplicou-lhe violento soco e fê-lo cair sentado, sem oferecer resistência. Assim mesmo, não satisfeito, fez nova investida. Mas, o bom samaritano era bom samaritano mesmo, cruzei o meu estabelecimento e tomei a frente e defesa do mais fraco. Inconformado, o meu "bom" Evangelista disse: “Você em vez de tá comigo, tá contra mim?”
“Não, respondi-lhe, não estou contra ninguém, é que o moço está indefeso e você não bate mais nele!”
Tomei o rapaz pelos braços e pedi que fosse embora.
O compadre, cabisbaixo, voltou-se em direção de sua casa, insatisfeito com o desfecho do caso.
Era sempre assim, cada briga que havia eu tinha sempre que intervir, expondo-me ao perigo, mas contava com a proteção de minha Boa Mãe que me fazia vitorioso nessas horas.

[1] - poesia de cordel.

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