terça-feira, 15 de junho de 2010

Histerias coletivas e suas explicações dúbias

Um estranho fenômeno está afetando estudantes, na sua maioria meninas, numa escola de ensino fundamental situada em Itatira, no Ceará, que conta com mais de 500 alunos.. Desde o início do mês as jovens passaram a sentir fenômenos estranhos. Entram em situação de transe, perdem a consciência, sentem calafrios, náuseas, começam a falar coisas diferentes e, após tudo isso, voltam a si sem se lembrarem de nada.
Na explicação de um padre e parapsicólogo, esse tipo de manifestação é nada mais do que a expressão do inconsciente da pessoa. É dessa parte do ser humano que vêm as manifestações. "Tudo vem de dentro para fora. É uma questão da estrutura psicológica da vítima". Segundo ele, “é uma força provocada pelo próprio organismo, um estágio de transe, em nenhum caso tem demônio, tudo é uma questão provocada pelo inconsciente da cabeça dessas jovens. O fenômeno é conhecido como histeria coletiva, mas na linguagem moderna significa contágio psíquico, que é justamente uma pessoa que sente este fenômeno e a outra pessoa capta pelo inconsciente e, de repente, sente os mesmos sintomas. A sensibilidade fica tão alta que as vítimas começam a se manifestar caindo no chão. É tudo isso que está ocorrendo com as meninas de Itatira. São contagiadas umas pelas outras, sem querer, tudo em um nível de inconsciência", explica o parapsicólogo.
Segundo o sacerdote, que tem por missão orientar as pessoas sobre os fenômenos sobrenaturais, preternaturais ou diabólicos, o que está ocorrendo é apenas “uma questão psicológica. O tratamento da histeria coletiva depende de cada caso. Têm casos que passam seis meses até um ano. Com as meninas de Itatira, é continuar conversando. Se a vítima for religiosa, conversar com o padre, se for evangélica, falar com um pastor". Faltou ele dizer: se for muçulmana, se for judia, se for... qualquer religião, não é? Até mesmo se for atéia, vá conversar... com quem? Será que está se repetindo caso semelhante ao da cidade Salém, nos EUA, ocorrido no século XVII?

A quatro anos, no México

Fenômeno semelhante atingiu algumas jovens de um internato no México há pouco mais de 4 anos. Os sintomas eram os mesmos: dores musculares, de cabeça, além de náusea, vômito, febre e paralisia muscular. Os familiares de algumas das meninas acudiram ao internato e tiveram que carregá-las para poder levá-las a diversos hospitais já que as garotas não conseguiam caminhar. Uma vez nos hospitais, elas começaram a recuperar o passo e a liberar-se de outros sintomas. O surto iniciou-se em outubro de 2006 com uma aluna, em novembro duas meninas relataram os mesmo sintomas, em fevereiro a cifra chegou a duzentas e alcançou seiscentas alunas. As autoridades de saúde intervieram, e descartaram fatores orgânicos na etiologia da situação, posteriormente consideraram o diagnóstico de transtorno conversivo epidêmico. Este transtorno faz referência ao que tradicionalmente se denomina histeria coletiva ou histeria de massas.
Segundo essa pseudo-ciência, chamada parapsicologia, trata-se de um fenômeno grupal ou coletivo onde os afetados geralmente são jovens que desenvolvem sintomas como náusea, vertigem, diarréia e alterações no passo, e que não possui explicação biológica demonstrável, além de estar associados a fatores de estresse. Os casos recentes de transtornos conversivos epidêmicos, dizem os entendidos, ocorreram principalmente entre colegiais, com adolescentes submetidos a diversas situações de estresse.

Alguns casos de histeria coletiva

Alguns casos de “histeria coletiva” têm explicação natural. O caso mais clássico é o do Gaseador Louco de Mattoon, em plenos EUA ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Era perto de meia-noite em uma quinta-feira, 31 de agosto de 1944, quando a polícia de Mattoon recebeu um telefonema de uma mulher e sua filha que diziam ter sido atacadas por uma figura espreitando nas sombras próxima de sua casa. Depois que elas abriram uma janela do quarto, a casa foi supostamente borrifada com um gás nauseante de cheiro doce que as deixou tontas e atordoadas. A mãe também disse que sofreu uma leve paralisia temporária em suas pernas. A polícia investigou, mas não encontrou nenhuma evidência do intruso. Duas horas depois a polícia novamente correu para a casa depois que o marido da mulher, ao voltar para casa, viu um homem suspeito correndo perto da janela onde o incidente original tinha acontecido. Novamente a polícia não encontrou nada relevante.
No dia 2 de setembro os editores do Mattoon Daily Journal-Gaztte publicaram a manchete: "Rondador Anestésico à Solta". Depois de ler a história, duas famílias de Mattoon contataram a polícia com relatos semelhantes de serem gaseadas em suas casas pouco antes do incidente. Durante os próximos dias, a polícia foi inundada com numerosos relatos de gaseamento, que com o tempo diminuíram e cessaram completamente depois de 12 de setembro. Durante as primeiras duas semanas de setembro, a polícia de Mattoon recebeu um total de 25 relatos separados envolvendo 27 mulheres e dois homens afirmando ter sido borrifados com o enigmático gás debilitante por alguém que se tornou amplamente conhecido como "o anestesista fantasma" e "o gaseador louco de Mattoon". A série de relatos é vista como um episódio de histeria em massa, notando que 93 por cento das "vítimas" eram mulheres de baixo status socioeconômico que não eram críticas ao avaliar a situação, e concluindo que elas estavam exibindo reações de conversão histéricas. Os sintomas passageiros informados por aqueles "gaseados" estavam limitados a náusea, vômito, boca seca, palpitações, dificuldade em caminhar e, em um caso, uma sensação ardente na boca. Estes sintomas podem ser explicados como ansiedade gerada pela publicidade do "gaseador", enquanto uma série de casos iniciais envolveram a redefinição de reações físicas mundanas que ordinariamente teriam passado sem nota, mas que foram subseqüentemente atribuídas ao anestesista fantasma.
Mas exemplos recentes por todo o mundo não faltam, e não se resumem a países subdesenvolvidos. No final de 2006 resultando na evacuação de uma escola na Inglaterra, por exemplo, ou na evacuação do metrô de Los Angeles em 2001. Um caso especialmente notável é a histeria coletiva Pokemón em 1997. Um episódio da série animada levou centenas de crianças a relatar mal-estar, mas apenas uma pequena porcentagem destas de fato foi afetada por ataques de epilepsia provocados pelas cores vibrantes piscando na TV.
A histeria coletiva como alteração funcional orgânica, expressada através de sintomas somáticos ou não, tem sido estudada pela medicina, mas não há ainda consenso sobre suas causas, pois não há evidências de que se trata realmente de caso clínico. A psiquiatria e psicanálise estudam os fenômenos com explicações hauridas de falsos pressupostos, especialmente a psicanálise que o liga a fatores sexuais ou do que eles chamam de “moral reprimida”. Quanto à parapsicologia, tira conclusões absurdas e mirabolantes, sem qualquer seriedade científica.

Histeria de dança

Há, por exemplo, um caso de histeria coletiva que tais estudiosos não conseguiram até hoje explicar.. Trata-se de uma epidemia de dança que teria ocorrida em 1518 na França. O historiador americano John Waller, da Universidade Estadual de Michigan, lançou um livro sobre o tema, “A Time to Dance, a Time To Die” (Tempo de Dançar, Tempo de Morrer), onde o fato é narrado.
Uma mulher, Frau Troffea, que saiu de casa num dia qualquer e pôs-se a dançar freneticamente, sem demonstrar nenhum sinal de alegria. De vez em quando, desmoronava, exausta, apenas para retomar seu movimento sinistro algumas horas depois. Após alguns dias, a mulher foi levada à força a um templo, com os sapatos encharcados de sangue. Mas o problema só cresceu: em pouco tempo, mais de 30 pessoas haviam tomado as ruas perpetuando o transe dançarino. Em pouco mais de um mês, já eram 400. Apesar de não haver um registro exato, estima-se que pouco mais de uma centena de pessoas morreram de exaustão.
A respeito de tal histeria de dança, houve também explicações sem lógica e nexo. Disseram que o esporão de centeio (fungo que ataca o cereal e pode provocar alucinações e a doença ergotismo) pode ter sido a causa. Segundo o autor do livro, porém, isso é improvável: “É curioso que a ideia ainda seja apresentada. Acho que isso acontece parcialmente devido a uma moda moderna de encontrar explicações biológicas simplórias. Especialistas consideram altamente improvável que, mesmo que o ergotismo fosse capaz de provocar a dança, as pessoas tenham respondido de maneira igual aos químicos psicotrópicos do esporão. De qualquer maneira, a manifestação mais comum do ergotismo é a restrição do fluxo sanguíneo nas extremidades, causando gangrena e morte. Se tivesse havido uma epidemia da doença em Estrasburgo, era de esperar que pelo menos uma parte significativa dos afetados morresse dessa maneira, mas não há nenhuma menção a esse fato”, disse ele. E logo depois dá uma explicação religiosa: “Eles não tinham a intenção de entrar em estados de transe, mas suas crenças sobrenaturais tornaram isso possível. Nessa área da Europa havia uma crença em uma praga de dança que podia ser enviada por São Vitor. Apenas porque as pessoas já temiam esse santo foi possível que o seu estado histérico se manifestasse na forma de uma dança compulsiva e selvagem”. Não é também uma explicação razoável e convincente...

E até de risos...

Região do lago Tanganyika, Tanzânia, África, 1963. Diversas garotas, estudantes de um internato, começaram a alternar riso e choro histericamente. Em pouco tempo, 95 das 159 alunas tinham sido atingidas pela praga, e a escola teve que ser fechada. Mas enviar as meninas de volta para seus vilarejos não foi uma boa ideia: elas espalharam a epidemia para outras crianças.
Alguns adultos também se contaminaram. Foram centenas de pessoas atingidas, que passavam cerca de uma semana rindo descontroladamente, seguido de períodos curtos de calmaria.
Exames de sangue e análises microscópicas não apontaram uma causa biológica para a síndrome, que durou entre seis e oito meses. Mas o que mais chamou a atenção foi o fato de que a praga não atingiu adultos alfabetizados. "Aqueles que não possuíam uma forte crença sobrenatural estavam imunes", diz John Waller. Os investigadores do caso concluíram que a epidemia da Tanzânia foi semelhante às pragas de dança da Europa Medieval. No caso da Tanzânia, o contexto de mudanças que estavam ocorrendo graças à recém- conquistada independência da Grã-Bretanha pode ter influenciado no gatilho da epidemia.
Sim, pode haver histeria até de risos, mas não de uma comunidade inteira como foi imaginado neste vídeo humorístico que pode ser visto abaixo

http://www.youtube.com/watch?v=Sr5HpgV42LQ&feature=player_embedded#!

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