Muita gente não sabe definir na vida real o que seja educação. A ponto dos próprios intelectuais, e com eles o Governo, haver instituído um ministério inadequadamente chamado de "educação e cultura". Poderiam chamá-lo de instrução, de didática ou qualquer outro termo mais adequado, mas nunca de educação, pois esta requer outros requisitos e não é feita somente com leitura e escola. Tanto que temos hoje muitos doutores que são mestres em falta de educação, quer dizer, falta de gentileza, de cortesia, etc. É o caso, por exemplo, dos velhos de nosso tempo. Instituíram para eles uma prerrogativa, um privilégio, dizendo que é para facilitar suas vidas, pela qual os bancos, as lojas e diversos outros lugares públicos são obrigados a reservar caixas e filas "preferenciais" junto com grávidas e deficientes físicos. Mas o que resulta disso? É que nossos idosos (e me incluo entre eles na qualidade de idoso, mas não de mal-educado) se tornaram muito mais mal-educados do que lhes permite os achaques da velhice. Tenho visto cenas deprimentes. Uma delas foi a de um senhor e uma senhora (ambos não tão velhos) afrontando uma mulher negra, tentando tirá-la daquela "fila dos idosos" porque não era o lugar dela. A negra ria e nada respondia, demonstrando ter muito mais educação do que os dois velhotes. O gerente da loja foi chamado, conversou com a negra e respondeu aos dois revoltados que nada podia fazer. Que disse a negra a ele? Que estava grávida? E se não estivesse, como se comprovaria sua gravidez? Ou será que ela ameaçou processar a loja por preconceito racial? Seria ir longe demais, mas é assim o mundo de hoje. Ameaçaram chamar a televisão a fim de registrar aquilo que eles julgavam um acinte, isto é, uma mulher aparentemente jovem, de cor negra, em frente aos dois velhos na mesma fila, um lugar que eles dizem ser "exclusivo". É claro que a TV não veio, talvez estivesse interessada em casos que lhes desse mais audiência ou nem sequer foi chamada.
O que manda a boa educação que se faça numa ocasião como essa? Como cavalheiro seria o caso do velho oferecer o seu lugar na fila para aquela senhora, pois o "direito" de um lugar numa fila é muito pequeno, não nos causa nenhum constrangimento cedê-lo pra alguém, além de demonstrar que possuímos gentileza e educação para com nosso semelhante. Brigar pelo lugar numa fila não é prerrogativa de um direito, mas tremenda falta de educação.
A chamada "fila dos idosos" está tornando os velhos de hoje muito mais mal-educados. Além do mais, geralmente um idoso é um aposentado, não tem compromisso com trabalho: então porque tanta pressa? Porque não ceder o lugar a uma outra pessoa que tem compromissos mais urgentes, como o trabalho ou a escola, enquanto que o velho vai sair daquela fila e ir, por exemplo, jogar dominó na pracinha?
Quanto ao fato de se alegar aleatoriamente que defender o lugar na fila é um "direito", há que se esclarecer que existem vários graus de direitos. Nesta graduação, existem os direitos de pequena importância que não nos causam nenhum prejuízo, como ceder um lugar na fila ou na rua, dar passagem a alguém, etc Ceder tais direitos para o próximo é uma questão de gentileza, de boa educação: é assim que agem os bons cavalheiros e as boas damas.
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