Pela primeira vez o PT
consegue eleger alguém para um cargo de grande importância em 1988, quando
Erundina foi eleita prefeita de São Paulo. Todos sabem no desastre que se deu,
mas mesmo assim Lula conseguiu, após 3 tentativas (89, 92 e 96), ser eleito
presidente sem nunca ter sido prefeito ou governador.
O fenômeno foi antevisto
e é mais ou menos explicado por Dr. Plínio nos artigos que escrevia na “Folha
de São Paulo”, dentre os quais um deles falava do que ele chamava fator “F”. A
expressão bem representa o espírito do nosso povo: “deixa ficar para ver como
vai ser”, ou coisa semelhante. Então o fator “f” é uma tentação de se acomodar
e deixar como está para ver como é que fica.
Logo ao ser eleita,
Erundina fez uma declaração dirigida à FIESP, com intuito de acalmar aqueles
que imaginavam que ela iria aplicar um programa violento contra a propriedade
privada. Eis o que ela disse:
"Garanto que podem ficar tranqüilos. Não vamos
revolucionar a administração municipal. Não estamos propondo uma solução
socialista para a cidade. Queremos governar com competência e transparência, e
isso interessa ao empresariado" ("Jornal da Tarde", 18/11/88).
Quando Lula foi eleito
tentou também acalmar os empresários e o mercado e não falou em aplicar os
programas radicais da esquerda socialista. Era necessário deixar primeiro o
povo adormecer no fator “F” para depois investir contra o direito de
propriedade a a livre iniciativa.
Como vimos, o PT veio e
“ficou” no poder durante tanto tempo, 13 anos (sem contar o tempo de seu vice
que ainda perdura). Durante esse período fez várias tentativas de aplicar seu
programa socialista, mas encontrou sérios obstáculos na opinião pública mais
sadia de nosso povo, e somente o aplicou em parte. E continuaria “ficando” no
poder se não fosse despertada a opinião pública contrária a tal adormecimento.
Vejam o que Dr. Plínio
comentava sobre o início do poder petista em 1988, num artigo publicado na “Folha
de São Paulo” intitulado “O que será do Brasil”?:
“Este pendor a ficar não se pode confundir com um conservantismo
ideológico, pois é essencialmente
temperamental.
Ora, por
uma curiosa, por uma trágica contradição da história, precisamente este fator
"F" foi, ao meu ver, uma das causas mais profundas da situação em que nos deixou a
Constituinte de 88. Isto é, um
Brasil desfigurado por uma transformação socialista espantosa, profunda e quase geral.
Do fator
"F", ou de algo análogo, quase não se fala hoje, nos
comentários políticos. Mas foi
precisamente ele que levou, de modo subconsciente, a grande maioria dos componentes
das classes às quais cabe a missão natural de preservar o regime da livre
iniciativa e da propriedade privada – industriais, comerciantes,
agricultores, proprietários de imóveis urbanos, titulares de cargos públicos ou
privados altamente remunerados – às
inércias profundas, às imprevidências cegas, aos votos dados às apalpadelas nas
eleições para a Constituinte. E, depois, às esperanças fátuas, às previsões de
um otimismo infantil, as quais prognosticavam vitórias que não
viriam. Tudo para desfechar em cambalachos de bastidores, os quais privaram as ditas classes conservadoras, de qualquer eficiência séria na
Constituinte. Por fim, contaram elas quase como favores, e até como
êxitos, entregas de terreno, de
alcance insondável.
Pensei em tudo isso, lendo nos jornais que a nova
prefeita de São Paulo, sobrevoando de helicóptero a capital de nosso Estado,
julgou de bom alvitre enviar uma mensagem à Federação das Indústrias, cujo
vistoso prédio ela divisava no momento. O texto dessa comunicação tinha um
significado intencional amável e pacificante. Ei-lo: "Garanto que podem
ficar tranqüilos. Não vamos revolucionar a administração municipal. Não estamos
propondo uma solução socialista para a cidade. Queremos governar com competência
e transparência, e isso interessa ao empresariado" ("Jornal da
Tarde", 18/11/88).
Mas essa mensagem tinha também um segundo sentido
óbvio, com o qual a missivista não atinou: "Não tenham medo de mim, porque
tenho a intenção de ser-lhes boazinha". O que leva o leitor a pensar:
"No dia em que ela se zangue, ai da Fiesp".
Qual o prefeito da Monarquia ou da República que
imaginara ter cabimento uma tal mensagem dirigida à maior potência econômica do
país?
Não pense o leitor que eu vá deduzir daí que Da.
Erundina fez um disparate. Ela apenas deixou transparecer uma verdade. É
que na presente República,
nova em folha, a iniciativa
privada é pouco mais do que um camundongo nas mãos do Estado.
E isto
porque os proprietários de empresas ou de imóveis rurais ou
urbanos, adormecidos pelo fator
"F", deixaram que as coisas descambassem para uma
situação em que "ficou" nada, ou pouco mais do que nada.
Involuntariamente, o
fator "F" se suicidou.
No que dará este Brasil em que nada mais tem
possibilidades sérias de ficar?
Nada, não! Fica o Brasil! E é na esperança de que este não se deixe contagiar
indefinidamente pelo efeito letal desse suicídio do fator "F",
que aqui consigno estas reflexões.
(Plinio Corrêa de
Oliveira – “Folha de São
Paulo”, 28 de novembro de 1988).
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