segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O QUE SERÁ DO BRASIL?






Pela primeira vez o PT consegue eleger alguém para um cargo de grande importância em 1988, quando Erundina foi eleita prefeita de São Paulo. Todos sabem no desastre que se deu, mas mesmo assim Lula conseguiu, após 3 tentativas (89, 92 e 96), ser eleito presidente sem nunca ter sido prefeito ou governador.
O fenômeno foi antevisto e é mais ou menos explicado por Dr. Plínio nos artigos que escrevia na “Folha de São Paulo”, dentre os quais um deles falava do que ele chamava fator “F”. A expressão bem representa o espírito do nosso povo: “deixa ficar para ver como vai ser”, ou coisa semelhante. Então o fator “f” é uma tentação de se acomodar e deixar como está para ver como é que fica.
Logo ao ser eleita, Erundina fez uma declaração dirigida à FIESP, com intuito de acalmar aqueles que imaginavam que ela iria aplicar um programa violento contra a propriedade privada. Eis o que ela disse:
"Garanto que podem ficar tranqüilos. Não vamos revolucionar a administração municipal. Não estamos propondo uma solução socialista para a cidade. Queremos governar com competência e transparência, e isso interessa ao empresariado" ("Jornal da Tarde", 18/11/88).
Quando Lula foi eleito tentou também acalmar os empresários e o mercado e não falou em aplicar os programas radicais da esquerda socialista. Era necessário deixar primeiro o povo adormecer no fator “F” para depois investir contra o direito de propriedade a a livre iniciativa.
Como vimos, o PT veio e “ficou” no poder durante tanto tempo, 13 anos (sem contar o tempo de seu vice que ainda perdura). Durante esse período fez várias tentativas de aplicar seu programa socialista, mas encontrou sérios obstáculos na opinião pública mais sadia de nosso povo, e somente o aplicou em parte. E continuaria “ficando” no poder se não fosse despertada a opinião pública contrária a tal adormecimento.
Vejam o que Dr. Plínio comentava sobre o início do poder petista em 1988, num artigo publicado na “Folha de São Paulo” intitulado “O que será do Brasil”?:
“Este pendor a ficar não se pode confundir com um conservantismo ideológico, pois é essencialmente temperamental.
Ora, por uma curiosa, por uma trágica contradição da história, precisamente este fator "F" foi, ao meu ver, uma das causas mais profundas da situação em que nos deixou a Constituinte de 88. Isto é, um Brasil desfigurado por uma transformação socialista espantosa, profunda e quase geral.
Do fator "F", ou de algo análogo, quase não se fala hoje, nos comentários políticos. Mas foi precisamente ele que levou, de modo subconsciente, a grande maioria dos componentes das classes às quais cabe a missão natural de preservar o regime da livre iniciativa e da propriedade privada – industriais, comerciantes, agricultores, proprietários de imóveis urbanos, titulares de cargos públicos ou privados altamente remunerados – às inércias profundas, às imprevidências cegas, aos votos dados às apalpadelas nas eleições para a Constituinte. E, depois, às esperanças fátuas, às previsões de um otimismo infantilas quais prognosticavam vitórias que não viriam. Tudo para desfechar em cambalachos de bastidores, os quais privaram as ditas classes conservadoras, de qualquer eficiência séria na Constituinte. Por fim, contaram elas quase como favores, e até como êxitos, entregas de terreno, de alcance insondável.
Pensei em tudo isso, lendo nos jornais que a nova prefeita de São Paulo, sobrevoando de helicóptero a capital de nosso Estado, julgou de bom alvitre enviar uma mensagem à Federação das Indústrias, cujo vistoso prédio ela divisava no momento. O texto dessa comunicação tinha um significado intencional amável e pacificante. Ei-lo: "Garanto que podem ficar tranqüilos. Não vamos revolucionar a administração municipal. Não estamos propondo uma solução socialista para a cidade. Queremos governar com competência e transparência, e isso interessa ao empresariado" ("Jornal da Tarde", 18/11/88).
Mas essa mensagem tinha também um segundo sentido óbvio, com o qual a missivista não atinou: "Não tenham medo de mim, porque tenho a intenção de ser-lhes boazinha". O que leva o leitor a pensar: "No dia em que ela se zangue, ai da Fiesp".
Qual o prefeito da Monarquia ou da República que imaginara ter cabimento uma tal mensagem dirigida à maior potência econômica do país?
Não pense o leitor que eu vá deduzir daí que Da. Erundina fez um disparate. Ela apenas deixou transparecer uma verdade. É que na presente República, nova em folha, a iniciativa privada é pouco mais do que um camundongo nas mãos do Estado.
isto porque os proprietários de empresas ou de imóveis rurais ou urbanos, adormecidos pelo fator "F", deixaram que as coisas descambassem para uma situação em que "ficou" nada, ou pouco mais do que nada.
Involuntariamente, o fator "F" se suicidou.
No que dará este Brasil em que nada mais tem possibilidades sérias de ficar?
Nada, não! Fica o Brasil! E é na esperança de que este não se deixe contagiar indefinidamente pelo efeito letal desse suicídio do fator "F", que aqui consigno estas reflexões.
(Plinio Corrêa de Oliveira – “Folha de São Paulo”, 28 de novembro de 1988).


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