Terça-feira da primeira semana
COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
Necessidade da Encarnação
Algo é necessário para algum fim de dois modos: primeiro, por necessidade absoluta, sem a qual algo não pode existir, como o sustento é necessário para a preservação da vida humana; segundo, na medida em que por meio de tal coisa o fim é melhor e mais convenientemente alcançado, como o cavalo é necessário para fazer uma viagem. Não foi necessário para o primeiro modo que Deus se encarnasse para a reparação da natureza humana, porque Deus por sua virtude onipotente podia reparar a natureza humana de muitas outras maneiras. Mas pelo segundo modo foi necessário que Deus se encarnasse.
Por isso disse Santo Agostinho:
“Demonstremos, ademais, que não faltou outro modo possível a Deus, sob cuja
majestade está submetido tudo igualmente, mas não havia outro modo mais
conveniente de curar nossa miséria." [1]
Isto é o que pode ser considerado em termos de promoção do homem para o bem.
1º) Quanto à fé, que se certifica mais pela
mesma coisa que acredita no mesmo Deus que fala; pelo que diz Santo Agostinho:
"Para que o homem caminhasse mais confiadamente em direção à verdade, o
Filho de Deus, que é a mesma Verdade, feito Homem, constituiu e fundou a fé.
"[2]
2º) Quanto à esperança, que se afirma
principalmente por isto, e assim disse Santo Agostinho: “Nada foi tão
necessário para elevar nossa esperança, como nos mostrar o quanto Deus nos
amou. Que prova mais disto que a de que o Filho do Homem se dignasse formar
consórcio com nossa natureza?”[3]
3ª) Quanto à caridade, que é motivada
principalmente por isto, e assim é que Santo Agostinho diz: “Que razão maior
existe para a vinda do Senhor que Deus manifesta seu amor em nós? ”E depois
acrescenta: “Se nos era penoso de amar, pelo menos não dói amar novamente.
"[4]
4º) Quanto à retidão de obrar, na qual se nos
mostrou para exemplo. Por isso, diz Santo Agostinho : “O homem não deveria ter
sido seguido, que poderia ser visto; Deus deveria ter sido seguido, que não
poderia ser visto. E assim, para mostrar ao homem quem foi visto pelo homem e
quem quer que o homem seguisse, Deus se fez homem. " [5]
5º) Quanto à plena participação da divindade,
que é a verdadeira bem-aventurança do homem, e o fim da vida humana, esta nos
foi dada pela humanidade de Cristo. Pois bem, Santo Agostinho diz: “Deus fez o
homem, para que o homem pudesse se tornar Deus. " (3º, q. I, a. II)[6] Não somente foi necessário que Deus se
encarnasse para a promoção do homem para o bem, mas também para a eliminação do
mal.
1º) O homem é instruído por isso a não
preferir o diabo a si mesmo, não adore aquele que é o autor do pecado. A este
respeito, diz Santo Agostinho: “Visto que Deus foi capaz de se unir com a
natureza humana de tal maneira que se tornou uma só pessoa, não se atrevam,
portanto, aqueles espíritos orgulhosos e maus para preceder o homem, porque
eles não têm carne. "[7]
2ª) Por isso somos ensinados o quanto é a
dignidade da natureza humana, para que não a manchemos com o pecado. Para a
qual assegura Santo Agostinho: “Deus nos
mostrou quão excelso lugar ocupa a natureza humana entre as criaturas,
aparecendo entre os homens como verdadeiro homem."[8] E o Papa São Leão diz :" Reconhece, ó
cristão, a tua dignidade; feito participante da natureza divina, não volte à
velha vileza com uma má conduta. " [9]
3º) Porque, para destruir a presunção do
homem, faz-se mais estimável a graça de Deus em Cristo homem, sem qualquer
mérito prévio de nossa parte.
4º) Porque por tanta humildade de Deus ele
consegue se reprimir e
curar
o orgulho do homem, que é o maior obstáculo que impede unir-se a Deus.
5º) Para libertar o homem da escravidão do
pecado; que, como diz Santo Agostinho, certamente deve ter sido verificado de
tal forma que o diabo foi derrotado pela justiça do homem Jesus Cristo; o que
aconteceu através do sacrifício de Cristo por nós. Um mero homem não poderia
satisfazer para toda a humanidade, e Deus não devia satisfazer; pelo qual era
apropriado que Jesus Cristo fosse Deus e homem. É por isso que o Papa São Leão
diz: “A fraqueza é tomada pela fortaleza, humildade pela majestade, mortalidade
pela eternidade, de modo que, o que convinha a nossa cura, um e o mesmo mediador
entre Deus e os homens poderia morrer por um lado e ressuscitar por outro;
porque se não fosse Deus verdadeiro, não traria o remédio; e se ele não fosse
um homem verdadeiro, ele não daria o exemplo. " [10]
Existem muitas outras vantagens que resultam
disso e que ultrapassam o apreensão do sentido humano, segundo a do
Eclesiástico (III, 25): Muitas coisas foram mostradas a você sobre a
compreensão do homem (3º, q. I. a. II)
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI
SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar,
OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO
- Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret. Deus amou de tal o modo o
mundo, que lhe deu seu Filho unigênito (Jo 3,16)
Ó Deus eterno, quem nos poderia jamais ter
feito esse dom de valor infinito, senão vós que sois um Deus de amor infinito?
E que mais podereis fazer, ó meu Criador, para inspirar-nos confiança em vossa
misericórdia, e obrigar-nos a amar-vos? Senhor, tenho-vos pago com ingratidão;
mas dissestes, pelo Apóstolo, “que tudo contribui em benefício dos que vos
amam”. Sejam, pois, quais forem o número e a enormidade de meus pecados, não
quero que destruam a minha confiança em vossa bondade, mas quero que me sirvam
para mais me humilhar quando receber alguma afronta ; ah! bem merece outras
afrontas e outros desprezos quem teve o atrevimento de ofender-vos, Majestade
infinita! Quero que me sirvam para suportar com mais paciência as cruzes que me
enviardes, para vos servir e honrar com mais zelo, a fim de reparar as injúrias
que vos tenho feito. Sim, meu Deus, quero lembrar-me sempre dos desgostos que
vos dei, a fim de louvar tanto mais a vossa misericórdia, e de me abrasar
sempre mais de amor por vós, que me procurastes quando vos fugia, e me tendes
feito tanto bem depois de haver recebido de mim tantos ultrajes. Senhor, espero
que já me tenhais perdoado; arrependo-me e quero arrepender-me sempre de minhas
ofensas. Quero ser-vos grato, compensando com meu amor a ingratidão que tenho
tido para convosco; mas vós haveis de ajudar-me; a vós peço a graça de executar
essa resolução. Fazei-vos amar, ó meu Deus, para a vossa glória, fazei-vos amar
muito por um pecador que muito vos ofendeu. Meu Deus, meu Deus, como poderia eu
cessar ainda de amar-vos, e renunciar novamente ao vosso amor?
Ó Maria, minha Rainha, socorrei-me; conheceis minha fraqueza:
fazei que a vós me recomende sempre que o demônio pretender separar-me de Deus.
Minha mãe, minha esperança, socorrei-me.
(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus
Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da
Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS
CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 124/125)
[1] De Trinit., Lib. XIII, ch. 10
[2] De civ. Dei, lib. XI, ch. dois.
[3] Extraído de Trinit.,
Lib. XIII, ch. 10
[4] De Catechiz. Rudibus, cap. Quatro
[5] Serm. De nativitate Domini, 22 Temp
[6] Serm. Do nativ. Domini, 13 de Temp
[7] Extraído de Trinit., Lib. 13, ch. 17
[8] De vera relig., Cap. 16
[9] Serm. De nativit, Domini, I.
[10] Serm. De
nativ. Domini, I.
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