Mania ou paranoia por doenças. Isso seria a denominação de um sintoma de comportamento social, aliás muito em voga hoje. Minha mãe tinha algo disso, pois invariavelmente tinha que ir aos médicos por qualquer sintoma que sentisse, por menor gravidade que fosse, sempre julgando que a coisa estava pior. Certo dia ela foi consultada por um médico e o mesmo lhe disse que ela nada tinha, estava em perfeita saúde, ao que ela respondeu: “Como não estou doente? O senhor é médico coisa nenhuma! Vou procurar outro médico!” Esse tipo de personalidade, ou melhor, esse tipo de comportamento social tornou-se não somente muito comum nas pessoas de hoje, mas uma verdadeira febre, algo assustadoramente dominante.
De tal sorte que foi uma das principais motivações do pânico
criado na pandemia do Covid: a hipocondria social serviu para causar pânico na
sociedade, o que ocorre até hoje.
Sei que há tal mentalidade, pois convivo com algumas pessoas
que sofrem de tal fenômeno, mas nunca
tinha convivido com alguém infestado dela de uma forma tão intensa como estou
vivendo agora. Já vi muitos que tiram os
sapatos ao entrarem em casa, deixando-os na porta de entrada, tomando uma
infinidade de remédios após alguns espirros, exagerando na limpeza geral do
corpo ou das roupas, etc., mas nunca tinha algo igual ao que presencio agora.
Quando essa pessoa apareceu na minha casa estava de máscara,
apavorada ainda por causa da pandemia. Mas julguei aquilo como coisa normal,
pois há muitas pessoas que ainda pensam que a pandemia ainda persiste, embora
se saiba que há mais de dois anos que o vírus foi embora ou se transformou em
outros. Mas, quando os dias foram se passando essa pessoa começou a revelar
outros comportamentos estranhos. Muito
ciosa da limpeza carrega uma enorme bagagem de produtos essenciais e até
exageradamente essenciais para o asseio corporal. Quando se levanta, ainda de manhã (não cedo,
porque corda sempre tarde), carrega sua maletinha para o banheiro e demora
horas em seus asseios. De longe a gente ouve por vários minutos o barulho da
escovação dos dentes. Mas não para por aí, seguido de outros procedimentos que
a gente não sabe quais são, mas certamente são pastas ou pomadas com
finalidades de proteção da pele e outros fins.
Sua comida é feita por ela mesma, pois teme as refeições
feitas por outras pessoas que poderiam lhe trazer doenças. Guarda uma enorme
quantidades de potes plásticos na geladeira contendo alguns produtos, os quais
desconheço o que são. Se vai pra rua passar da hora do almoço, leva sempre uma
marmitinha com aquela comida especial.
Não sei o que contém ali, mas ela mesma vive falando que não come tal
coisa e tal outra porque faz mal. Por exemplo, não come carne. É
vegetariana. Certo dia lhe adverti que
tomasse cuidado com as comidas vegetais, pois aqueles produtos vêm da fonte
produtora contendo muitos micróbios ou outros elementos nocivos à saúde. Ao que
ela respondeu que todos seus produtos são de origens naturais e não fazem mal à
saúde. Não adiantava argumentar, a coisa leva até o fanatismo.
Sua roupa é ela mesma que lava, pois tem que ser uma lavagem
especial a fim de não deixar nenhum resquício de impureza ou vírus da rua.
Assim, chinelos, sapatos, roupas, objetos de uso pessoal (até os brincos ou
pulseiras?) só usa raramente os seus, não tocando nos das demais pessoas com
receito de se contaminar.
Ao deitar-se corre o olhar pelo quarto para ver se há algum
mofo ou mau cheiro nas paredes. Para proteger-se disso usa um produto que
produz com cheiro no ar e evita, segundo ela mesma, os maus odores e os
micróbios tão comuns nas paredes úmidas.
Muitos dos cuidados de minha hipocondríaca não estão
relatados porque ela não os disse todos ainda, mas imagino que chega ao
exagero. Por exemplo, a vi batendo os pés com força no chão, mas de uma forma
forte e exagerada. Pensei até que tinha tomado um tropeço. Mas, ela mesma disse
que batia os pés daquela forma, com força e demoradamente, a fim de retirar
deles a poeira ou qualquer sujeira que possa entrar dentro de casa.
Se a alma dela, quando morrer, puder sentir o mal cheiro que
vai exalar seu cadáver vai sofrer muito mais do que quando vivia , pois essa
hipocondria doentia poderá ultrapassar os limites desta vida e invadir a outra.
Eis um exemplo de um mal social muito divulgado e praticado
hoje: HIPOCONDRIA SOCIAL
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