A fuga de Jesus para o Egito e a volta para a Judéia (Mt 2, 13-15)
(Para a Raimunda)
Esta pequena lembrança
Que te dou de coração,
É insignificante, pequena,
Levando em comparação
O que me deu de si mesma
Com esta nossa união
A vida a dois só começa
Através de um namoro,
Mas depois vem a união
Que é como jóia de ouro.
E com a vinda dos filhos
Completa o nosso tesouro.
Todos os filhos que temos,
Que são seus e os meus sonhos:
Uma dádiva dos céus
Que de Deus nós recebemos,
E que devemos agradecer
Em oração os votos Seus.
Em todas as tribulações
Que nos vem do dia-a-dia,
Sempre temos confiança
Na Santa Virgem Maria,
Que como uma Santa Mãe,
Nos dá paz e alegria
.
Às vezes na vida da gente acontecem coisas que se assemelham à vida de Cristo ou dos Santos. Não quero fantasiar, querendo ser igual a Cristo ou aos Santos. Mas todos sabemos que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, e se procurássemos imitar a Cristo em todas as nossas ações, sentir-nos-íamos mais realizados na obra do Criador. Por isto peço que ninguém censure o que vou escrever.
Nesta minha longa caminhada já passei por muitos momentos de prazer, alegria e sofrimento, porém, desta vez, minha narrativa conta algo diferente da minha vida, que acho semelhante a um momento da vida de Nosso Senhor.
Jesus quando nasceu foi preciso fugir para o Egito a fim de se livrar de seus algozes; e com aquela dificuldade que havia de transporte, foi preciso fazer a longa caminhada, da Judéia até o Egito, com seu pai adotivo São José e Sua Mãe Maria Santíssima, nas costas de um jumento, enfrentando um sol abrasador no deserto.
Comigo também houve uma caminhada, fugindo dos algozes da seca... Foi o seguinte:
Ano de 1943, morávamos na Serra. E como sempre acontece no sertão nordestino, estávamos no segundo ano de seca, com as dificuldades da vida aumentando cada dia. Tomei, então, uma decisão, deixar a vida na roça, ir para Fortaleza tentar nova vida.
Mas o que tinha tudo isto a ver com a fugida de Cristo para o Egito? Foi justamente a caminhada que fizemos para chegar até o Ceará, principalmente porque na época em que resolvi faze-la as dificuldades eram similares às do tempo de Cristo.
Raimunda estava grávida quando planejamos a viagem, no último mês de gestação. Era o mês de agosto, nasceu o nosso quarto filho, o Franciné, e com 9 dias falecia o terceiro, Jurandir, fato este que abalou profundamente nossas vidas tão castigadas até aquele momento. Dois meses depois fizemos a longa caminhada, em que vejo semelhança com a da Família Sagrada. Apesar do estado de saúde da Raimunda, enfrentamos mais de 300 quilômetros nas costas de burros, com um sol escaldante, fome, sede, poeira, cansaços, e duas crianças, uma de colo e outra com 5 anos de idade.[1] Depois que chegamos ao nosso destino, Raimunda passou muito tempo em tratamento de saúde, ainda sob os efeitos do trauma que sofrera com a morte do filho, bem como da penosa viagem que fizera.
[1] Pelo relato, levavam o “Netinho” e o “Franciné”, tendo deixado o Assis aos cuidados da avó Bárbara, talvez porque o menino estivesse algum tanto adoentado, pois não se explica que levassem uma criança de apenas dois meses (o Franciné nasceu em agosto de 43 e a viagem foi feita em outubro do mesmo ano) em vez da outra que tinha 4 anos de idade. O Assis veio para Fortaleza um ano depois, trazido pelos avós que também vieram morar lá.
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