quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Minhas origens (VIII)

A morte de um filho
Às vezes você comete asneiras
E mesmo sem ter razão
Não dá a sua atenção
À sua mãe verdadeira:
Aquela que a vida inteira
Seguiu todo o seu caminho,
Cuidou de você direitinho
Sem nunca desanimar,
E como Rainha do Lar
Merece todo seu carinho.

Nessa época (1943) possuíamos quatro filhos, e nesse mesmo ano morreu, de desidratação, o terceiro desses quatro, o Jurandir[1], com dois anos e quatro meses de idade: de olhos claros, cabelos loiros e cacheados.
Doente há uns quinze dias, num dado momento em que estava com ele nos braços, teve uma crise muito forte de cólicas, então ergueu-se e me mordeu no peito, morrendo em seguida[2].

Retirantes... graças a Deus
Nesse ano (1943) resolvi vir embora para Fortaleza. O meu sogro não aprovava essa viagem. Ainda relutou para que não viesse. Dizia que não me daria muito bem. Assim mesmo resolvi fazer a viagem. Vim para Fortaleza tentar nova vida. O meu irmão mais velho, Pedro Batista, nos trouxe até Quixadá em seus animais. Com duas crianças pequenas, pois a outra ficara com a avó, foi um eterno sofrer. Em Quixadá ficamos oito dias na casa de um primo, o Zé Pinto, enquanto me comunicava com meus cunhados na capital, o Francisco e o Luís, pedindo-lhes para me arranjarem moradia. Antes de sair de Quixadá vendi um cavalo por cem mil réis, era o último de meus pertences.
Viajamos de trem, meu primo nos acompanhou até Fortaleza. Mas, como o trem atrasou, só chegamos na Central à noite. Os meus parentes já não estavam mais esperando. Por isto ficamos tristes e um pouco desnorteados, chegarmos à noite numa cidade grande sem conhecer nada nem ninguém, com uma criança de pouco mais de um mês chorando, a mulher doente da viagem extravagante que fizera... Felizmente o Zé Pinto conhecia bem a cidade, e, com a ajuda de Deus, chegamos logo à casa do Francisco, que era no (bairro de) Joaquim Távora. Fomos muito bem recebidos, aí ficando dezessete dias aguardando desocupasse uma casa do Luís, no Cocorote, para onde nos mudamos.
[1] Provavelmente seu nome era Jurandir Josino Cavalcante, o mesmo do outro Jurandir nascido em 1948.
[2] Os filhos, pela ordem de nascimento, eram: João Batista Neto (o Netinho), Francisco Assis Cavalcante, Jurandir (Josino Cavalcante?) e Francisco Cavalcante Neto (o Franciné). Segundo conta o Netinho, enquanto um filho nascia outro morria, e os dois mais velhos não podiam chorar a morte do irmãozinho para não acordar o bebê que nascera há 9 dias apenas.

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