quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Minhas origens (XI)


Do meu irmão vicentino

Quando entrei na Conferência
Foi por força do destino,
Queria ter as virtudes
Do meu irmão vicentino.

De início nada sabia,
Mas com ajuda do Divino
Recebi uma lição
Do meu irmão vicentino

Às vezes, sem experiência,
Eu cometo desatino...
Mas recebo a compreensão
Do meu irmão vicentino.

É quando me sinto fraco,
Me sentindo pequenino,
Que conto sempre com a
força
Do meu irmão vicentino.

Meu primeiro emprego
Cheguei em Fortaleza com quatrocentos mil réis, não era pouco, mas a mulher teve que iniciar um tratamento... Passados cinco dias consegui um emprego na Panair do Brasil, ganhando trezentos e sessenta mil réis por mês, o salário mínimo da época. Não era muito, mas não pagávamos aluguel, e, como a família era pequena, dava para ir vivendo.
Arranjei logo conhecimento com um merceeiro, que ficou me fornecendo mercadorias durante três anos. Era um bom amigo. Depois trouxe um seu irmão para ajudar, um grosseirão. Um certo dia, como de costume, meu filho mais velho foi bem cedo comprar pão, e por ter demorado ralhei com ele, mas, em tom de repulsa, pediu-me: “Papai, deixe de comprar fiado, quando chego na mercearia e peço para o Clóvis me de despachar, ele diz “se tiver com pressa, vá embora!”. Prometi, e deixei mesmo.
Comecei a trabalhar no dia 23 de outubro de 1943, sem qualquer documento, nem sequer o registro de nascimento, deram-me o prazo de trinta dias para tirar a Carteira Profissional, de Reservista e folha-corrida da Polícia. Fui à 25a. CR tirar a Carteira de Reservista de Terceira Categoria, mas, matuto, não conhecia nada de nada, e lá chegando falei com um soldado que me mandou falar com um sargento que trabalhava no Protocolo. Era um militar já bem idoso, trajava a paisano. Atendeu-me com cara de poucos amigos, recebeu meu Registro, três retratos três por quatro, pôs tudo numa gaveta, entregou-me uma senha e disse-me: “Volte aqui quarta-feira”. Voltei, mas ele continuou me enrolando, quando disseram-me que ele queria era receber gorjeta, dei-lhe cinco mil réis. Mas continuou na mesma, até que um soldado recomendou-me que falasse com o comandante e foi como resolvi.
Trabalhei nessa firma (Panair) até 1948, quando fui demitido, recebendo uma indenização de quatro contos de réis.
Dei quinhentos mil réis de entrada na compra de uma máquina de costura para a Raimunda e com o restante abri uma pequena mercearia. Durante o dia trabalhava no meu balcão, à noite na agência de passagens da mesma companhia, a convite do Sr. Celso Nunes, o agente, onde prestei os meus serviços até 1952.

Um bom médico
No decorrer dessa época tive muitos problemas de doenças com a mulher e os filhos. Lembro-me de uma vez, eu tinha começado a trabalhar há pouco tempo, não tinha direito ao Instituto nem conhecia alguma assistência gratuita. Aconteceu que o meu filho mais velho começou a gemer com uma dor no intestino, demos-lhe tudo quanto havia de remédio caseiro, mas nada servia. Um vizinho, então, indicou-me um médico de Parangaba, com fama de muito caridoso, que na certa me atenderia. Era ele o Dr. Codes e Sandoval, sua casa ficava logo após a pracinha. Cheguei, eram 17:50 hs, bati palmas. Saiu uma moça que disse: “O doutor acabou de chegar e ainda vai jantar”. Eu disse: “Não tem importância, eu espero”. Mas, o médico que esta próximo, apresentou-se e perguntou do que se tratava. Expliquei-lhe então a situação: “Doutor, o meu filho há dois dias que está com uma dor de intestino... mas antes que o senhor passe a receita quero dizer que não posso pagar a consulta”. Não me respondeu. Fez algumas perguntas sobre a doença da criança, despachou a receita, perguntando ainda: “Você tem dinheiro para comprar o remédio?” Sim, eu tinha. Quando cheguei à casa trazia o remédio, o menino logo começou a tomar e no outro dia estava bom.

Crupe
Um dia, quando trabalhava ainda na Base Aérea (na Panair), cheguei em casa cerca de vinte e duas horas, a Raimunda estava aflita, desta vez era o Jurandir. Apresentava uma espécie de asfixia, com uma roncaria na garganta, ninguém sabia o que era. Chegou um primo, o José Batista, e disse que era crupe, conhecia caso idêntico. Pusemos imediatamente a criança no automóvel de um amigo e deslocamos para a Assistência Municipal, hoje o José Frota.
Aplicaram-lhe uma injeção antidiftérica e o médico aconselhou-nos procurássemos um especialista. Fomos, pois, ao Doutor João Mendes Filho, que na época era o que se pode chamar “médico de família’. Em sua residência, na Aldeota, depois de meia-noite, atendeu-nos prontamente. De posse da receita, fomos à farmácia, depois voltamos à Assistência para a aplicação do soro. De maneira que rondamos a noite toda, chegando à casa somente às quatro da manhã, com o garoto a salvo e, em poucos dias, curado.




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