sábado, 1 de março de 2008

A cultura através da literatura de cordel

Lendo livros de cordel, o Sr. Batista conseguiu intelectualizar-se da melhor forma possível e assim ampliar seus horizontes, saber de algo distante de onde morava, nomes das capitais, situações dos povos dos outros lugares, etc. E lia com tanto gosto aqueles livretos que, já velho, recordava para seus filhos, netos e bisnetos, aquelas poesias que lhe enchiam de satisfação em seus tempos de mocidade. Sua memória nunca lhe traía e conseguiu decorar grande parte das historietas e das poesias de seu tempo. Lembrava com saudades das histórias de um personagem chamado “Cancão de Fogo” , celebrizado pela literatura de cordel.
Um exemplo que bem mostra a riqueza intelectual dos fazedores de versos do sertão é uma poesia que o Sr. Batista sempre repetia quando maduro, de autor desconhecido, que aprendera em sua juventude:
Eu vi um sagüi de espora
Macaco de realejo
Guariba tocar solfejo
Eu vi nos braços da Aurora:
Eu vi uma caipora
Despenseira de um navio
Sapo cantar desafio
Morcego vender fazenda
Catita fazendo renda
O sol tremendo com frio!

O mote é: Eu vi nos braços da Aurora o sol tremendo com frio! Tudo faz crer que o autor da poesia se baseou em nada menos do que no famoso Bocage, que tem uma poesia com o mesmo mote e reza assim:

Se isto vai de foz em fora,
Também com luz diamantina
Vir raiando a matutina
Eu vi nos braços da Aurora:
Só me resta ver agora
O caranguejo de um rio,
Ver os efeitos do cio,
Cantar modas um macaco,
A lua tomar tabaco,
O sol tremendo com frio!

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