sábado, 5 de abril de 2008

UM COMERCIANTE EM APUROS (XXVI)

O mau pagador
De início comprava muito, pagava certo, depois de uns tempos deu pra atrasar, dizendo que não recebera o ordenado. De início eu ficava esperando, confiante de que quando recebesse o dinheiro saldaria tudo o que devia. Mas os fatos não se deram assim, e, resultado, passou seis meses comprando e dando a mesma desculpa. Desconfiado, fui à Secretaria onde trabalhava, procurei pelo Diretor que informou-me não haver atraso algum no pagamento do funcionalismo, acrescentando que nunca salário de empregado tinha sofrido atraso.
Procurei, então, pelo Domingos, mas informaram-me que tinha sido transferido para o interior, só vinha em casa nos fins de semana. Depois de muitos insucessos, encontrei-o, deu-me umas desculpas, no próximo pagamento liquidaria o débito. Mas o Domingos não apareceu. Fiz-lhe nova visita, sendo mal recebido por sua esposa que disse ser a conta muito velha, por isto o Luiz não pagaria.
Por azar do infeliz, ou por sorte minha, ou seja, do mais infeliz, eu tinha uns negócios com o Dr. Salú, Juiz de Direito. Visitei-o, contei-lhe o problema. Ele, bastante conhecedor de minhas dificuldades, ofereceu-se para ajudar-me. Instruiu-me para que descobrisse o dia em que o homem estava em casa, pretendia fazer-lhe uma visita.
No domingo seguinte mandei o Assis verificar a presença dele em sua residência. Em seguida, fui ao Juiz que, sem perda de tempo, saiu comigo no carro do Tribunal, levando seu guarda-costas. Requisitou ainda dois agentes na Central de Polícia. Assim, chegamos à toca do Domingos.
Quando chegamos, ele – muito nervoso – foi dizendo: “Não precisava trazer a polícia na minha casa para prender-me”. Depois foi dando as costas e dizendo: “Agora me dão licença que estou jantando”. Dr. Salú respondeu-lhe que tomasse o seu jantar sossegado, pois não se tratava de prender ninguém, ”queremos apenas conversar”.
Após o jantar sentamo-nos para as tratativas, a qual se deu em clima cordial, com alguns frutos. Não tendo, pois, o que dar em espécie, o débito somava três mil e setecentos cruzeiros, ofereceu um conjunto de cadeiras, três cadeiras e uma mesa de centro. Dava-me os móveis pela quantia de dois mil e quinhentos cruzeiros, o restante em suaves prestações de quatrocentos cruzeiros cada.
Pobre de mim, ainda esta vez o Luiz Domingos não cumpriu a segunda parte do trato. Dr. Salú ainda ofereceu-se para fazer nova visita, mas, desenganado, dispensei-o, as cadeiras eram suficientes para me darem a paz que eu queria.

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