terça-feira, 8 de abril de 2008

Um comerciante em apuros (XXVII)

Fernando X Joaquim Eletricista
O padre exclamou
- Bruto beberrão!
Puxou um garrafão
E desarrolhou,
Disse: tenho cana aqui,
Porém não te dou! [1]

Em frente de minha mercearia havia um outro comerciante, o Fernando, que lidava com o mesmo ramo de negócio e por este motivo era despeitado comigo. Estando bêbado, por várias vezes esteve a provocar brigas. Até que um dia dei-lhe um empurrão que veio a quebrar-lhe os óculos. Depois acalmou-se, não mais insultou-me.
O Joaquim Gonçalves também era freqüentador de meu balcão, moreno, alto, magro, pai de família numerosa. Responsável e honesto, carregava um defeito num braço, saldo de um acidente de trabalho. Eletricista, funcionário da Base Aérea, considerava-o um amigo. Tomava sua “cana” não com assiduidade, mas, além de fazer compras para o consumo da família, reunia-se vez por outra aos mais freqüentadores, participando de rodas de conversa. O Fernando, sem nenhuma razão, não apresentava simpatia para com ele. E sendo gordo, baixo, louro e de olhos azuis, como era, fazia figura bastante diferente de seu antagonista.
Nesse dia estava ao pé do meu balcão, bebendo, calado, ciente de que comigo as coisas não seguiam bem aprumadas para o lado dele, não se arriscava a uma simples palavra. No momento só estavam nós dois, depois apareceu o Joaquim que ficou reservado, tomando a sua “bicada” quieto.
Enfim, o gordo, que não saíra ainda de seu silêncio, cuspiu uma primeira palavra em direção ao eletricista, chamando-o de corno. Este repreendeu-o, exigindo que o respeitasse. Foi o suficiente para acender um facho azul em seus olhos, na direção do Fernando, e frechar contra o adversário, como um Dom Quixote, armado com um cabo de vassoura. Mas, ao suspender o pau para o “terrível” ataque, recebeu de contra-ataque uma pedra, cujo peso avalio em uns três quilos, que o meu amigo apanhara no chão. Atingiu-o no queixo, quebrando-lhe alguns dentes e, em seguida, derrubando-o sobre uns caixotes, com o sangue a correr da boca. O meu eletricista ainda tentou um segundo choque, não fazendo-o em virtude de minha intervenção, pedindo-lhe que se retirasse a fim de que se evitasse um mal maior. Em seguida fui atender ao ferido, a quem prestei os primeiros socorros, aconselhando-o a procurar um médico. Foi, sim, sem dizer palavra, sentar num banco que havia em frente à calçada de sua mercearia, com a boca ainda a sair sangue. Temi que procurasse vingança, em conseqüência do violento choque, mas, graças a Deus, o caso aí mesmo teve o seu fim.
[1] - poesia de cordel.

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