quinta-feira, 17 de julho de 2008

Nomes exóticos, irreverentes e despersonalizantes

Como colocar o nome em seu filho? Esta é uma das principais dúvidas que assalta aos pais, especialmente nos dias de hoje. Antigamente não se tinha qualquer dúvida, pois geralmente se colocava o nome do santo do dia ou de algum personagem da família. Mas, hoje, como é que os pais se conduzem a tal respeito? De modo geral, tem se notado uma tendência à irreverência, isto é, tratar o filho até mesmo com certo desprezo ou falta de respeito. Comenta-se que esta tendência começou com os chamados “Cristãos Novos”, judeus recém convertidos ao cristianismo, mas que, ao gerar filhos que eles consideravam de raça mista, colocavam nomes de árvores (Carvalho, Oliveira, Pereira), de parte da árvore (Ramos, Rosa), de animais (Leão, Carneiro,etc.) ou outros de natureza estranha para dar a entender que não eram de raça pura. Neste caso, será que Condoleezza Rice (Rice quer dizer arroz em inglês) é filha de judeu com mãe não judia?
Quando trabalhava no Banco fui responsável durante anos da carteira de Cadastro, e naquela função consegui colecionar uma porção de nomes que se inserem nesta categoria. Em Jacobina, por exemplo, havia um cliente cujo nome era Roque Defensor dos Santos; se ele se julgava capaz de defender algum santo não se sabe, mas seus pais certamente o julgavam desta forma ao ser batizado. Ainda hoje naquela cidade há um cidadão cujo nome causa estranheza, e diz-se lá que ninguém o pronuncia com a boca cheia de farinha: seu nome Onofrófio. Vejamos outros de minha “coleção”:
Tarzan Rei das Selvas – Engenheiro do Departamento de Estrada e Rodagens da Bahia (DERBA), conseguiu na justiça que mudassem seu nome para Jacobina Vieira Filho (talvez fosse o nome do pai);Dr. Hugo, advogado e colega do Banco, resolveu registrar seu filho com o nome de Hugo II (assim mesmo, em algarismos romanos como os reis e Papas), sendo chamado apenas de "Segundinho".
O caso mais interessante que vi em Jacobina foi de um amigo meu. Quando o pai foi registrá-lo, o escrivão do cartório não ouviu bem o nome e perguntou: “Como é o nome, mesmo?” Resposta do pai: “É Pedro, né?” Não deu outra, o cara registrou a criança com o singular nome de Pedro Né.
Não em Jacobina, mas na própria Capital (Salvador) registra-se o nome de três irmãos: Brisa, Sereno e Relento.
Outros nomes irreverentes tirei da própria imprensa ou de terceiros, como por exemplo:
João Casou de Calças Curtas – Roceiro do Rio Grande do Norte;
Oceano Atlântico Linhares e Oceano Pacífico Linhares – Irmãos gêmeos, o primeiro, era funcionário do Banco do Brasil e o segundo não se sabe;
Futuro Nacional Provisório da Pátria – Funcionário dos Correios em Fortaleza; Fernando Calsavara – É conhecido colaborador da revista “A Reacreativa”. Falou-se muito em Um Dois Três de Oliveira Quatro, mas poucos falam da família Rosado no Rio Grande do Norte, de Mossoró, cujos filhos foram registrados com o nome de números franceses: un, deux, trois, etc. Alguns dos filhos desta família foram famosos na política como Dix-setp Rosado e Dix-huit Rosado (Isto é, Dezessete e Dezoito Rosado). Será que foram tantos irmãos assim, dezoito ou mais?
Muitos são os nomes de pessoas tirados de animais, inclusive de personalidades famosas. Nem quero aqui citar os nomes de Coelho, Leão, Carneiro, etc, hoje tão comuns, mas os de insetos:Washington Barata – Político da velha guarda, e o baiano (séc. XIX) Cândido Barata Ribeiro;Pe. Mosca de Carvalho – Foi diretor da Faculdade de Filosofia de Recife; com o nome de mosca tivemos também Gaetano Mosca (político e cientista italiano do século XIX).Já no interior da Bahia um pai resolveu colocar o nome de sua filha de Xana (em homenagem a um gatinho que criavam.
Formiga – Poucos receberam este nome ao nascer (há até uma cidade mineira), mas existe um em Salvador que ficou bastante conhecido na década de 80: trata-se do padre Formiga que era responsável pelos menores abandonados na Bahia. O grilo foi premiado também alguns nomes: o comerciante Manuel Grilo, o fotógrafo Fernando Grilo e o advogado Santiago Grilo são apenas três exemplos.
Além de animais, também há nomes indígenas como o Dr. Ubirajara Índio do Ceará, antigo jurista de Fortaleza.
Esta curiosidade não faltou aos internautas: tirei estes nomes abaixo da internet:
Valdisnei – Seria uma abreviatura de Walt Disney?
Usnavi – Será que o pai estava a “ver navios” ou tirou seu nome da marinha americana (US Navy)?
Xerox (nome do pai), Fotocópia (filha mais velha) e Autenticada (filha mais nova), caso registrado em Recife. E este merece cadeia para o pai: Urinoldo Alequissandro;
Muitos nomes são oriundos do cinema, ou de artistas, ou de personagens famosos:
Maiquel Edy Marfy – Que foi interpretado como a fusão dois nomes americanos (com pronúncia abrasileirada) Michael e Eddie Murhphy;
Maicom Géquiçom – A pronúncia fala do famoso cantor americano;
Erripóter; Boniclaide; Magaiver; Jedai; Istiveonder; Silvéster Estalone;
Outros não têm explicação lógica:
Tayla Nayla, Taxla Naxla e Tarla Narla – Três irmãs.
Eneaotil – (Isto mesmo, soletrando a palavra “não”);
Por que estes pais simplesmente não procuraram escolher um meio mais fácil de colocar o nome em seus filhos? Como? Ora, se não forem católicos, ou não cristãos, e não quiserem colocar nomes de santos, porque não escolhem, por exemplo, nomes antigos de sua própria família, de personalidades locais que admiram, desde que não sejam assim irreverentes e despersonalizantes?

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