sábado, 6 de setembro de 2008
Alguns “fatinhos” do passado
Eis algumas narrações que a mamãe fez de suas lembranças do passado:
Lembranças da infância
“Meu avô se chamava João Josino e era originário de Tibau, no Rio Grande do Norte. Dizia ele que a sua família, a Josino, era descendente da Holanda. Certo dia, quando eu estava com uns 3 anos de idade (se não me engano), meu pai levou a família e fomos morar em Areia Branca, próximo de Tibau. Minhas irmãs mais velhas (do primeiro casamento de mamãe) foram para a praia e me deixaram em casa com a mamãe. Então eu chorei tanto para ir também com elas pra praia que adormeci (consolada pela mamãe) e quando acordei estava toda dormente de tanta raiva. Demoramos pouco tempo em Areia Branca, logo voltamos para nossa casa em Portalegre. Mas lá em Portalegre a família terminou por se separar. Um dia meu pai bateu em Maria, que era muito geniosa, cansando revolta nos outros filhos, principalmente nas minhas irmãs mais velhas. Foi tanta a confusão causada que isto nos fez separar – minhas irmãs mais velhas (que não eram filhas do papai) foram morar separadas, pois não aceitavam o rigor com que papai as tratava”.
O gavião
“Quando éramos ainda recém casados, sem filhos, mas morando em nossa casa, certo dia veio um gavião e desceu sobre os pintos para pegá-los, mas no momento exato errou o bote, bateu em alguma coisa e ficou ferido no chão. O Francisco foi tentar enxotar a ave, mas eu briguei com ele, com pena do animal, dizendo que não lhe fizesse mal e o deixasse livre. Porém, repentinamente, o gavião atacou o Francisco e lhe feriu no rosto. Vendo-o com o rosto sangrando não contei conversa: peguei um pau e parti para cima do bicho com raiva. Aí o Francisco voltou-se para mim e disse: Eis uma prova de que realmente você gosta de mim!
O ganha-pão
“Antes mesmo de casar-se eu já sabia fazer trabalhos domésticos, fazia renda de bilro, costurava e fazia renda de rendes com a mamãe. Isto me dava alguma renda para ajudar nas despesas de casa. Quanto ao Francisco, ele já havia também se acostumado desde jovem a trabalhar para sustentar seus irmãos mais novos. Ficou órfão muito novo, aos 12 e 16 anos de idade (primeiro da mãe e depois do pai), e desde então trabalhava para sustentar a família, composta pelas suas irmãs, o irmão e a madrasta. Suas irmãs se chamavam Antonia, Anália, Salomé e Rita, e tinha também em sua companhia um irmão caçula chamado Hermes. O Francisco trabalhava no roça plantando milho, feijão e mandioca. Mas também criava animais, como carneiros e porcos, para engordar e vender na feira. Às vezes tinha que matar uma criação ou um porco para ir vender a carne na feira e assim conseguir dinheiro para suprir as necessidades da família.
Minhas cunhadas eram de personalidades fortes, mas diferentes. A Anália era preguiçosa e arrogante, queria mandar em tudo e vivia sempre me pirraçando. Antonia, a mais velha, tinha um pouco de tudo isto mas em grau menor. Era mais compreensiva, mas também não trabalhava para ajudar o irmão. A Rita também não ajudava em nada. Quanto à Salomé, já vivia com seu marido e pouco sei dela.
Já o irmão menor do Francisco, o Hermes, desde cedo revelou-se irresponsável, era jogador e se aproveitava da bondade do irmão que o sustentava. Os outros dois irmãos, Pedro Doca, eram casados e viviam com suas famílias em lugares distantes.
O “regenerado”“Quando chegamos em Fortaleza, conheci um casal que foi pra mim um verdadeiro exemplo de concórdia e de fidelidade conjugal. No início do casamento o marido passou a agir com muita grosseria e rudeza para com a esposa. Esta, porém, suportava tudo calada, sem nada reclamar. Os dias foram se passando e aquele homem sempre a tratar mal a sua esposa e sem que esta nada replicasse, suportando tudo com resignação cristã. Certo dia o homem tratou mal à sua esposa como era costume, e, vendo-a resignada sem nada lhe replicar, parou um instante, ficou olhando admirado para ela e, pasmado, disse para a esposa: “Meu Deus, eu não mereço uma esposa tão boa. Sendo assim, a partir de hoje vou mudar de vida e vou tratá-la diferente, com carinho e amor”. Realmente, a partir daquele dia o marido mudou completamente de comportamento e durante muitos anos que os conheci viveram em santa harmonia.
Os filhos que deram mais trabalho com doenças
“Logo quando chegamos em Fortaleza, os filhos que deram mais trabalho com doenças foram o Juraci e o Jurandir. Apesar de ser muito robusto, o Jurandir foi acometido por um ataque repentino de uma estranha doença que lhe tapava a garganta, sufocando-o. Sua vida foi salva graças a meu cunhado, o José, esposo de minha irmã Antonia. Estando ele na nossa casa, ao ver a criança disse ao Francisco que aquilo era crupe e que o levasse com urgência ao médico, pois era doença que mata em 24 horas. Francisco ficou agoniado, foi até um vizinho, pediu ajuda e o mesmo nos levou em seu carro a procura de médico. Este já era conhecido do Francisco, o qual lhe telefonou antes perguntando se poderia atendê-lo em virtude do adiantado da hora, pois já era noite. O médico foi muito gentil e disse que levasse a criança até sua casa, deu o endereço e ficou aguardando. E lá fomos, eu, o Francisco, o Jurandir e o vizinho. Quando a consulta terminou já era quase uma hora da madrugada. O Francisco não tinha dinheiro e o médico, muito caridoso e amigo, emprestou-o para que fosse comprar o remédio com urgência em alguma farmácia de plantão. E aí fomos no mesmo carro a procura de alguma farmácia, até que a encontramos aberta e compramos o remédio. Na farmácia foi aplicada uma injeção passada pelo médico, enquanto o outro remédio levamos para continuar medicando-o em casa. Quando chegamos em casa foi que vimos que a coisa era realmente muito feia. Antes do e feito da injeção a criança estava sendo sufocada mas ainda um pouco quieta. Agora, porém, o menino ficava o tempo estrebuchando, pulando (tinha quase dois anos) e impaciente com os ataques da doença. Aí nos revezamos a noite inteira: eu ficava com o menino nos braços um tempo, e quando cansava passava para o Francisco. De 3 em 3 horas a gente dava o outro remédio. Até amanhecer o dia... Os acessos foram diminuindo, diminuindo, até parar completamente.
“O Juraci também foi atacado por estranha doença que até hoje não sei o que foi. O menino estava bonzinho e, de repente, arriou das pernas e não conseguia mais andar. Eu e o Francisco ficamos aflitos pois ele já tinha 3 anos de idade e andava normalmente até aquele momento. Até hoje não sei que doença foi aquela; só sei que o levamos ao médico, demos o remédio e ele ficou curado.
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