Quando Deus criou o Homem, fez dele o elemento principal de uma família, que não poderia subsistir sem ele. Fez depois a mulher para que, com ela, obtivesse os filhos necessários à formação de seu núcleo familiar. O conjunto formado pelo casal, filhos e, eventualmente, os serviçais, sob a direção do homem, deu origem à palavra “família” (do latim “famulus”). Foi desta forma que surgiu o Patriarcado no mundo, uma instituição divina que, entretanto, cresceu naturalmente no correr do tempo. Deus não só instituiu o Patriarcado, mas criou uma “sociedade” dos santos patriarcas, conforme consta no livro de Tobias: “...Nesta mesma noite, queimando o fígado do peixe, será posto em fuga o demônio. Na segunda noite serás admitido na sociedade dos santos patriarcas. Na terceira noite conseguirás a bênção, para que de vós nasçam filhos robustos. Passada a terceira noite tomarás a donzela no temor do Senhor, levado mais pelo desejo de ter filhos do que por sensualidade, a fim de conseguires nos filhos a bênção reservada à descendência de Abraão”. (Tob 6, 19-22). Esta “Sociedade Patriarcal” era constituída de uma contínua sucessão de homens fiéis a Deus, tendo recebido d’Ele a bênção especial da progenitura e da propagação de sua estirpe. E em respeito ao princípio do Patriarcado, até mesmo aqueles que pecaram e se enveredaram pelo caminho do mal obtiveram de Deus que seus nomes fossem mencionados com respeito e veneração pelas gerações futuras. É o caso, por exemplo, dos patriarcas Ismael, Esaú, Moab, etc, A Sagrada Escritura faz suas revelações colocando em destaque sempre os Patriarcas. Eva só é importante enquanto companheira do Patriarca Adão. Depois de Eva, por muito tempo não se fala senão nos homens ou patriarcas. Adão e Eva tiveram muitas filhas, mas na Bíblia só se fala em Caim e Abel. Quando Caim se casou se registra o fato assim: “E Caim conheceu sua mulher, a qual concebeu e deu à luz Henoc”. Quem era esta mulher de Caim? Evidentemente que era uma filha de Adão, merecendo portanto ser pelo menos nominada, mas não se sabe quem foi. Importante é Caim, é Set, é Henoc, porque eram patriarcas. A Sagrada Escritura começa a falar de mulheres para registrar o surgimento da poligamia: “E este tomou duas mulheres, uma chamada Ada, e outra Sela” (Gn 4, 17-19). Mas logo em seguida os filhos masculinos de Ada são citados, Jabel e Jubal, assim como o de Sela, Tubalcain, ao lado de sua irmã Noema. Jabel era designado como um dos que “habitava sob tendas e dos pastores”, Jubal foi o mestre, o pai, dos que tocam cítara e órgão, Tubalcain era artífice em toda qualidade de obras de cobre e de ferro, mas de Noema nada se fala. Ela poderia ter sido, por exemplo, exímia na arte de tecer, mas nada se diz.
Em seguida a Sagrada Escritura fala de Set, filho de Adão. Depois, dentre os filhos de Set fala-se apenas de Enós, por que este “começou a invocar o nome do Senhor”. E toda a genealogia de Adão segue assim: gerou filhos e filhas, mas depois de Set aparece apenas citado o nome de Enós, que gerou Cainan, que gerou Malaleel, que gerou Jared, que gerou Henoc, que gerou Matusalém, etc. Henoc também gerou filhos e filhas, mas apenas os filhos são citados. Matusalém gerou Lamec, que gerou Noé. Todos estes patriarcas viveram trezentos, quatrocentos, quinhentos ou até novecentos anos, e geraram filhos e filhas. Mas apenas seus nomes são citados. Por que? Porque eles eram os patriarcas, eram os chefes das clãs, os principais - os demais, dentre os quais as mulheres, não tinham tanta importância para serem citados ou lembrados.
Inicialmente, a mulher foi citada como a grande vencedora da serpente: "Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela, e ela te pisará a cabeça com seu calcanhar" (Gên 3-15). Depois, as mulheres começaram a ser referidas de uma forma coletiva (sem citar nomes) nas ocasiões em que causavam a perdição dos homens. Foi assim que “tendo os homens começado a multiplicar-se sobre a terra, e tendo gerado filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram por suas mulheres...” Na Sagrada Escritura, alguns interpretam que “filhos de Deus” eram aqueles que viviam santamente, os descendentes de Set, mas o próprio Santo Agostinho interpreta o termo "filhos de Deus" como sendo os anjos. A interpretação de Santo Agostinho é corretíssima, pois não haveria motivos para a Bíblia se referir aos "filhos de Deus" como sendo os homens, porquanto era comum os homens tomarem as mulheres para si. Embora não possa se descartar a idéia de se chamar os homens bons também de “filhos de Deus”, que realmente eles o são. Pelo texto se entende, então, que alguns anjos tomaram algumas das filhas dos homens como mulheres. E como se trata de uma ação maléfica, se depreende que tais anjos eram os demônios. De outro lado, as chamadas “filhas dos homens” eram as que praticavam o pecado, as descendentes de Caim. A coisa chegou a tal ponto que geraram gigantes entre eles, “homens possantes e desde há muito afamados” (Gên 6, 4). A decadência era tamanha que Deus resolveu acabar com a humanidade e mandou o dilúvio. Em atenção a Noé, Patriarca puro e fiel a Deus, foi preservada a sua posteridade e dado continuidade ao povoamento da terra pelos homens. Quando tinha quinhentos anos, Noé teve seus filhos. Quais eram os filhos de Noé? Sem, Cam e Jafet. Na hora de entrar na arca, entraram também as mulheres de Noé e dos filhos, mas quem eram elas? Não se sabe, pois seus nomes não são citados. Após o dilúvio, saíram todos da Arca e está escrito: “Estes são os três filhos de Noé, e por eles se propagou todo o gênero humano sobre a terra”. (Gn 9, 10). Propagou-se como? A Sagrada Escritura não fala mais sobre as mulheres dos filhos de Noé nem de outras pessoas. A partir daí se começa a descrever toda a genealogia patriarcal da posteridade de Noé.
Dois foram, portanto, os principais patriarcas da Humanidade, Adão e Noé, mas seus descendentes citados na Bíblia eram somente patriarcas das épocas em que viveram. Vieram depois os patriarcas do povo eleito, Abraão, Isaac e Jacó (depois mudado o nome para Israel pelo Anjo).
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