quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Bondade sertaneja (VII)

Por: Juraci Josino Cavalcante

A busca da perfeição está no interior de cada um
O abade Jean Baptiste Chautard em sua célebre obra “A Alma de Todo Apostolado” afirma dentre outras coisas: “quanto mais o coração estiver unido a Jesus Cristo, tanto mais se tornará participante da qualidade principal do coração divino e humano do Redentor, sua bondade, indulgência, benevolência, compaixão; tudo nele se multiplica e sua generosidade de dedicação há de atingir as raias da imolação alegre e magnânima.
Transfigurado pelo amor divino, o apóstolo atrairá sem esforços a simpatia das almas: “In bonitate et alacritate animae suae placuit”. As suas palavras e os seus atos serão repassados de bondade, dessa bondade desinteressada, que não se assemelha àquela que é inspirada pelo desejo de popularidade ou pelo egoísmo sutil...”
Tal é a bondade de quem se assemelha a Nosso Senhor que as pessoas vêem Deus e Sua bondade manifestada naqueles religiosos que a praticam: “Deus está ali, exclama o ímpio ou o pecador perante essas dedicações”. Mais adiante Dom Chautard define o que seja esta bondade: “Esses anjos terrestres realizam a seguinte definição do Pe. Faber: “a Bondade é a efusão de si nos outros. Ser bom é pôr os outros em lugar de si próprio”. A bondade tem convertido mais pecadores do que o zelo, a eloqüência ou a instrução, e estas três coisas jamais converteram pessoa alguma sem que a bondade nisso influísse de qualquer modo”. (op. cit. pág. 121).
O homem tem de buscar um equilíbrio entre extremos opostos na prática do Bem, de forma a não cair em exageros ou falta de cumprimento do dever. Como diz a sentença de ascética “In medio stat virtus” isto é, a virtude está no meio, está no equilíbrio. Assim, poderemos imaginar algumas situações em que o homem não pode ficar num extremo nem no outro:
- Amor e ódio - Nunca o amor deve ser lânguido, romântico e imbecil; nunca o ódio deve ser rancoroso, invejoso, vingativo e intempestivo;
- Paciência e irritação – Ser paciente sem indolência e sem preguiça, nunca a paciência deve ser fruto da acomodação, estagnação, ociosidade, como os estóicos. Nunca se irritar seria o ideal, mas se tal for necessário, fazê-lo com suma caridade, calma, embora com toda a veemência possível;
- Falar e ouvir – Ouvir sempre mais do que falar deve ser a regra geral, mas falar sempre quando necessário. Saber falar, modular o tom de voz de acordo com a situação e caso. Saber ouvir, ficar atento ao que se diz. Esmerar-se nisto como numa arte;
- Ser cortês e agressivo - A cortesia manda ser sempre cavalheiro e a necessidade da luta manda sempre ir ao ataque. Se for necessário atacar, procurar fazê-lo com cortesia e cavalheirismo, sem se esquecer de dar toda força de ímpeto ao ataque; quando for cortês nunca se esquecer da luta;
- Trabalho e repouso – Trabalhar como se nunca tivesse de repousar, e repousar pensando que o trabalho em breve o está chamando;
- Sofrer e gozar – Aceitar com calma, paciência e resignação todos os sofrimentos que ocorram naturalmente e permitidos por Deus, em especial aqueles decorrentes do cumprimento do dever e do amor a Deus; gozar dos benefícios, prazeres lícitos e riquezas com duplo sentido: glorificando e dando graças a Deus por tudo e intensamente desapegado aos gozos para não pecar por fruição;
- Espírito de vingança e do perdão – O espírito de vingança é fruto da inveja; em geral o possuem as pessoas que não suportam ter seu orgulho ferido – e aí são implacáveis para com os outros. Devemos combatê-lo com o espírito do perdão, fruto da humildade e do amor. Quem ama, perdoa. Mesmo que não se perdoe aquela pessoa, naquele momento, porque ela não pediu ou não aceita o perdão por orgulho – mas é bom ter no íntimo a vontade de perdoar se as condições mudarem;
- Justiça e benevolência – Ser justo é dar a cada um o que lhe é devido: a Deus o que é de Deus, a César o que é de César; mas também consiste em reparar ou restituir o que for tirado de seu legítimo dono: tanto os bens materiais quanto os espirituais ou imateriais, como fama, idoneidade, etc. Às vezes exageramos sendo benevolentes com quem não merece. Para combater tal tendência, ter presente que a benevolência deve ser exercida a quem reparou ou restituiu o mal que haja feito. Não se deve ter benevolência para quem não pretende reparar o mal que tenha praticado contra os outros;
- Corrigir castigando ou doutrinando – Neste sentido o método mais perfeito é o de São João Bosco. Doutrinar deve ser o cotidiano, para formar o caráter da pessoa; ao procurar o erro devemos sempre seguir esta regra: primeiro, ensinar; segundo, admoestar; terceiro, admoestar com rigor ameaçando o castigo; e, por fim, quarto, castigar branda ou rigorosamente conforme a gravidade do erro e as atenuantes de quem errou.
Seria falsa, pois, uma Bondade que visasse somente o amor, a paciência, ouvir sempre, cortesia, repouso, gozo, perdão, benevolência para com todos, brandura em tudo. É preciso ver o outro lado da vida.

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