domingo, 31 de agosto de 2008

Mensagem e exemplo de esperança para o mundo de hoje

Homenagem póstuma de um filho (XII)

Horto das Oliveiras?


Por: Jurandir Josino Cavalcante

Deixara lá o meu velho pai com os seus pensamentos, doente, alquebrado, largado naquele negro condomínio, de onde os condôminos saíam divididos entre o céu e a terra. Quando o céu os chamava, estavam redimidos, pagas a bom preço as penas corporais; quando não, iam para aquela outra comunidade, de almas enegrecidas pela má vida, pelos descaminhos, condenadas a estar num fogo que dói sem destruir, e que, privadas da fonte de todos os bens, da fonte de todo o amor, iam ser infelizes para sempre.
Mas... que digo? Há pouco punha o meu pai no famoso Jardim de Getsêmane, agora vislumbro-o padecente num “negro condomínio”...
A resposta tiro-a do dia seguinte.
Quando na terça-feira fui visitá-lo a cena que presenciei era mais para imaginar que a paixão atingira o seu clímax, com sua crucifixão. Estava de braços abertos em cruz, amarrados os punhos nos flancos da cama, as pernas também atadas, lívido, não como um cadáver, mas como um ser vivo que estava a morrer. De seu abdome saía uma sonda, fixada ao corpo por uma confusão de esparadrapos que se desencontravam em todas as direções, os pés nus... aparentava dormir o sono dos justos, mas dos justos ainda não justiçados, porque o seu resfolegar era de quem esperava o amparo de Deus, que apazigua todos os corações.
Sim, horto, “negro condomínio”, calvário, o caminho era pelo menos o de um outro Cristo, que prometia elevar-se dali para o Céu. Não para redimir a “sua humanidade”, mas para ser dela o seu representante, como o foi tão bem aqui na terra.
Toquei na sua perna e abriu maquinalmente os olhos.
- Meu filho!
- A bênção, meu pai. O senhor está bem?
Não me recorda o que respondeu, porque voltou a dormir imediatamente, roncando com um estertor medonho. Peguei-lhe de novo na perna, pois desejava ouvir-lhe as queixas, saber como andavam as dores, ouvir-lhe as derradeiras palavras. Mais uma vez se me apagou o que aconteceu e o que me disse, tão grande era a emoção.
Quarta-feira, pouco diferiu do dia anterior, exceção da piora que se notava na sua aparência geral.
O que diz o prontuário médico desse dia:
“08:50 h aceitou 150ml de leite
09:50h aceitou salada de frutas, mais 40ml de água
12:05h aceitou pouco almoço, mais 100ml de água
Observações:
No segundo dia de UTI, para iniciar diálise peritonial, com diagnóstico de insuficiência renal aguda. Consciente, parcialmente orientado, cooperativo, tarquicárdico, apnéico, afebril. P.A. (pressão arterial) de 130 X 70... etc.
Em oxigenoterapia por cateter nasal. Aceitando a dieta oferecida. Não conciliou bem o sono e o repouso durante a noite. Evacuou ontem, em pouca quantidade, semi-pastosa escurecida. Sem diurese desde ontem à noite.
17:30h Consciente, respondendo coerente às solicitações verbais, ... , afebril, apnéico, cooperativo. Sem diurese e evacuações no período da tarde, aceitando bem a dieta oferecida, 150ml de sopa. Em oxigenoterapia por cateter nasal...
24:30h Consciente, orientado, respondendo coerente as solictações verbais. Hipotérmico, taquicárdico...”
O sono não conciliado lhe dera uma noite comprida, a não acabar mais. De manhã, veio fome e sede. Mas o que seria, afinal, manhã, tarde e noite, para uma alma num ambiente penumbroso, onde não entrava nem esperança de luz solar? Antes uma divisão engenhada pela ansiedade, que pela presença ou ausência do astro-rei. A cabeça indicava as mudanças do tempo e o corpo pedia a satisfação das necessidades. E que seria igualmente fome e sede num trapo humano, de dores malferido, como um prisioneiro, chagado pelos açoites de suas moléstias, imobilizado numa cama, afastado de seus entes queridos, daquele seu mundo vegetal, de seus pobres “assistidos”, de seus amigos vicentinos, do mundo? Era o meu pai este homem, que me gerara, que me vira nascer, que se emocionara com os rebentos que lhe nasceram, para povoar o lar e a vida. Estava lá, perinde ad cadáver, quer dizer, “consciente, orientado, respondendo coerente as solicitações verbais”, a mercê, enfim, das graças celestes, das bênçãos de Deus, único refrigério, nesse terrível deserto.
As consolações celestes são para todos os instantes, e ele, como um ser temente a Deus, cria-as abundantes nesses dias aflitivos, mas faltava-lhe outro refrigério, uma ausência que ele não sabia explicar, como se um pedaço de si mesmo estivesse faltando. Dores e mil incômodos impediam-no de resolver esta equação, um vazio que era igual a qualquer coisa inexplicável, um buraco negro que lhe atravessava o coração, como mais uma doença não detectável pela ciência, tampouco curável por ela, e que tinha uma igualdade, uma incógnita até então insolúvel. Na tarde deste dia teve a resposta que procurava, e quando ela veio, os seus olhos, ultimamente tão fechados e tristes e tímidos, quiseram eles mesmos falar, contrariando a natureza. Mas a boca, mais extrovertida e saliente, deu um chega-pra-lá nos olhos, e, se aproveitando das reminiscências juvenis, guardadas pela retina, desabafou.
- Estava desaparecida...! E, enquanto os olhos agora gozavam mais que a boca, porque se maravilhavam com a visão de sua princesinha, o órgão falante continuou: - Não tem aparecido! O que é que houve?
- Ando ocupada, não pude vir vê-lo. Foi a desculpa que ela encontrou. Mas só desculpa, pois na verdade ela não sabia dizer outra coisa, que foi coisa que a emoção lhe aprontou.
À noite, a Saudade, por uns mirrados minutos, veio cantar nos seus ouvidos esta quadrinha:

Quem inventou a partida
Não sabia o que era amor:
Quem parte, parte sem vida,
Quem fica morre de dor.

E, antes de conciliar o sono, o meu sofrido pai sentiu entrar como que por debaixo da fresta da porta um ventinho fresco e confortador, com um cheiro delicioso que remontava a sua mocidade. Fechou os olhos, vasculhou o pensamento, e por fim disse para consigo: “É o aracati...”
O prontuário médico termina este dia com as seguintes palavras: “Conciliando sono no período...”.

O ciúme dos parentes

Mamãe sempre demonstrou ter muito ciúme de suas cunhadas, as irmãs do papai: Anália, Antonia, Salomé e Rita. O pior caso ocorria com Anália, a mais nova de todas. Logo após o casamento, papai e mamãe foram morar com suas irmãs, em sua própria casa, com os quais havia apenas um irmão (tio Hermes), o caçula de todos. Como eram órfãos de pai e mãe, e os dois irmãos mais velhos (Pedro e Raimundo, este com o apelido de “Doca”) sendo já casados e morando com suas esposas, o jeito foi acomodar o novo casal naquela casa, pois papai era como que um arrimo que sustentava suas irmãs e o irmão mais novo. O primeiro desentendimento da mamãe com suas cunhadas foi quando ela foi atacada por uma rês (tendo escapado da mesma subindo numa cerca) enquanto suas cunhadas riam dela, mesmo sabendo que estava grávida. Chegando à casa foi queixar-se de papai, mas este ralhou com ela por ter medo de uma rês mansa. Talvez nem tanto por causa do susto dado pela rês, mas por causa de papai haver ralhado com ela, poucos dias depois sofreu um aborto de seu primeiro filho. Papai ficou muito arrependido por ter ralhado com ela e viu-se culpado por ter motivado aquele aborto espontâneo, embora talvez não fosse essa a razão.
Alguns dias depois e a coisa ficou feia, surgiu um grande atrito entre mamãe e a cunhada Anália. Segundo mamãe, as irmãs dele nada faziam para ajudá-lo nas despesas da casa, só mamãe é que trabalhava e tentava ganhar algum dinheiro com costuras e rendas. Trabalhava fazendo rendas de bilro (que havia aprendido com a mãe dela), bordados e rendas de rede de dormir. Um dia ela discutiu com a cunhada, Anália, e ameaçou-a, no calor da discussão, botar pra fora da casa. Mas tia Anália a desafiou, dizendo que estava na casa dela e de seu irmão, que era quem mandava ali. Mamãe não agüentou e pediu que ela saísse. Quando papai chegou à casa, vindo do trabalho, Anália foi a primeira a lhe fazer queixa, dizendo que daquela casa não sairia, pois era sua casa. Papai, calado como sempre foi, nada respondeu, mas alguns instantes depois chamou mamãe para acompanhá-lo até à roça (onde trabalhava), onde poderiam conversar a sós. Chegando lá, disse à mamãe que ela tinha de tolerar a irmã dele morando junto com eles, para o bem da união da família. Mesmo ouvindo seus argumentos, mamãe não concordou e exigiu dele que desse um jeito de tirar as irmãs dali, especialmente a Anália. Perante esta recusa, papai foi duro com ela e disse que se não quisesse morar com as irmãs dele, ele mesmo a largaria e o casamento estaria acabado. Aquela exigência e aquelas palavras foram muito duras para ela, que o amava muito e não queria nunca que houvesse uma separação. Ficou um instante pensativa e disse que aceitaria ficar com as irmãs dele, mas com o único objetivo de evitar uma separação assim tão cedo...
Mas, de nada adiantou os propósitos de mamãe. Logo, logo, as desavenças surgiam. O convívio ficou insuportável. Papai, então, tomou uma resolução sensata: resolveu sair de casa com mamãe e ir morar em outra casa. Embora morando noutra casa, ficou porém dando completa assistência às irmãs e ao irmão. Resolveu assim diplomaticamente salvar seu casamento, embora isto lhe custasse muito.

sábado, 23 de agosto de 2008

Homenagem póstuma de um filho (XI)

Por: Jurandir Josino Cavalcante

Transferência para o Hospital

Atravessava as noites como os dias, em dores. Tramal, receitara-lhe o geriatra. Foi seu bote salva-vida. Quando as ondas estavam revoltas, agitadas, o perigo de ir ao fundo iminente, lançava mão da pequenita bóia. Acalmava a sua natureza, fechava os olhos, dormia profundo, sonhava na longínqua Portalegre. A Raimunda nervosa porque o irmão dele tinha levado o seu chapéu novo, “que nem tinha sido usado ainda”. Noutro, a sua égua, peada, coitada! Foi atravessar o riacho e morreu afogada. Raimunda não perdoava o cunhado. “Calma, Raimunda, Deus nos dá outra”. Mas o efeito passava e novamente levantava-se a tempestade. O barco estremecia, corria ao remédio.
Piorava. Pior hoje que ontem, que anteontem... amanhã pior. Melhor que o tempo não passasse, retrocedesse. Mas não, Deus não queria, e mergulhava nas profundidades obscuras daquele oceano de memórias, dopado pelo remédio, que as dores exigiam. E o corpo, fragilizado por tantos sofrimentos, foi definhando, foi inviabilizando alguns órgãos, foi limitando a capacidade de resistência daquele que a vida toda soubera fazer frente às intempéries da natureza. Até que, concluiu-se, não dava mais para tê-lo assim, mergulhado nessa cama d’água. (Ironia: ele que tantas secas passara). Pois as crises renais se repetiam, conjuminadas com as dores intensas.
A 16 de janeiro de 1995, o sol já se despencando por trás das sombras do horizonte, papai dava entrada no Hospital das Clínicas. Fez uma “tomografia computadorizada da coluna lombo-sacra”, onde se lê na requisição (sem data), no campo “dados clínicos”, a seguinte informação: “Paciente c/ dores intensas na coluna c/ incidência p/ perna direita necessitando de avaliação mais minuciosa da coluna lombo-sacra”. E, no verso, no quadro “Resumo da história clínica que motivou a solicitação do exame”: “Paciente após subir em árvore apresentou dores intensas na coluna lombar c/ irradiação p/ perna direita acompanhada de alt. sensibilidade”.
Na capa do seu prontuário médico, de número 424.353, foi anotado à mão: “Insuficiência renal aguda”, e, entre parênteses: “Mieloma? Ca de Próstata?”. Deram-lhe o leito 13 de uma pequena enfermaria, enquanto desocupava um outro na UTI.
Quando cheguei para vê-lo, no começo da noite, já estava no balão de oxigênio. Lúcido, mas um pouco assustado.
Perguntei-lhe, baixinho:
- Papai, o Sr. saindo-se bem desta, o que é que pretende fazer da vida?
Olhou para mim, com aquele olhar paternal, sério, e respondeu, sem hesitar:
- Meu filho, saindo-me com vida deste hospital, vou me dedicar mais a Deus, vou trabalhar mais por Sua obra.
Esse seria o prólogo, pois daqui a pouco a tragédia iniciaria o seu curso ligeiro, com um triste epílogo após cinco atos.
O que era “se dedicar mais a Deus, trabalhar mais por Sua obra”? A explicação não a obtive dele, porque me furtei de ir mais longe na entrevista: aquelas palavras me bastavam, pois conhecia a alma de quem as proferia.
O homem profundamente religioso e temente a Deus estava a dizer uma de suas últimas orações, a peticionar e reverenciar aquele ao Qual devia a vida laboriosa, sangrada, mas feliz nos seus meandros, nas suas particularidades, nas suas realizações de bom cristão, na sua busca incansável de amar ao próximo.
Estávamos assim, olhando um para o outro, sem palavras mais para dizer... quando surgiu dois enfermeiros que empurravam uma maca: vinham levá-lo para a UTI. Ajudei-os, acompanhando-o até àquele lugar escuro, àquela espécie de Purgatório.
Purgatório ou Inferno Prefiro pensar que era o Purgatório, onde o meu pai estava sendo metido para purgar, expiar das faltas cometidas. Ali seria o lugar onde ia padecer os maiores sofrimentos de sua vida, quiçá por não ter completado o trabalho que Deus lhe confiara, ou porque merecia alguma pena por falta que ignorávamos. Mas o nosso Pai do Céu reservava-lhe um prêmio, pela paciência e resignação que ia demonstrar (mais este exemplo!), durante aqueles derradeiros dias. Olhando seu corpo, sua face, seu arfar, seu olhar inquiridor, naquele estado de miséria, de indigência, de submissão, de impotência, vinha-me tristeza, angústia, desespero, se misturando a sentimento de separação daquele que mais amava nesta terra, mais desejava singrasse este Vale ileso, forte, sem golpe algum a privar-nos de seu convívio.
Os enfermeiros abriram a porta, de duas bandas, e adentramos a uma sala escura, com um forte odor de medicamentos, silenciosa, lúgubre. Quando paramos a maca, eles pegaram cada qual numa ponta do lençol que suspenderam, transportando-o para uma cama contígua. Nesse momento papai desnorteado inquiria-nos com seu olhar, como quem diz: “O que fazem comigo! Chega de sofrimento!”. Não dei tempo à emoção. Despedi-me, após receber sua bênção.
Beirava oito da noite quando se deu conta de que se achava só naquela velha oficina humana. Os seus apóstolos tinham ido dormir, cansados, de chorar pelo que sabiam, pelo que não sabiam, pelo que não admitiam. E ele, primeira vez soerguia a mão sem encontrar o apoio de outras mãos, os olhos postos num teto que entediava, vultos brancos iam e vinham em passos alterados... - Ah, estou doido, ou é um sonho Terá dito. Não, não terá dito, terá pensado, e outras coisas mais, talvez reminiscências, mastigatório de velho, o mesmo, sobre a Raimunda, sobre os meninos, o Velho Chico, Portalegre. Tirante muita coisa, ali estava qual Jesus no Horto, e, passado o primeiro momento, rezaria ao Pai, que daqui a pouco viriam os algozes e se realizaria o fim de tudo.

Exemplo de concórdia entre casados

Sentada na área que dá pra rua, em frente à sua casa, mamãe começou a conversar sobre seu passado. Mas, antes de contar aqui o que ela relembrou naquela ocasião vou registrar os dados de sua família. O primeiro casamento da vovó Bárbara Josino da Costa teve como esposo o Sr. Maximino Alexandre Fernandes, gerando os seguintes filhos: Francisco Josino Fernandes (nascido em 1906, o "tio Nenên" como era conhecido), Rita Fernandes da Costa (que mudou para "de Holanda" após o casamento, nascida em 1909), Luiz Fernandes da Costa (nascido em 1911), João Josino da Costa (que seria o caçula, nascido em 1915) e Maria Fernandes da Costa (que mudou para "de Lima" após o casamento, nascida em 1913). Não sabe dizer quanto tempo vovó Bárbara ficou viúva, mas não deve ter sido muito pois o primeiro filho do segundo casamento (ela mesma) nasceu em 1919. Desse segundo casamento, com o vovô Francisco Cavalcante de Paiva (ou Francisco de Paiva Cavalcante), teve os seguintes filhos: Raimunda Josino Cavalcante (nascida em 1919(, Alcebíades Josino de Paiva (nascido em 1920), Telina Josino Cavalcante (mudou sobrenome para "Amorim" após casamento, nascida em 1922), Hilda Josino Cavalcante (que mudou para "Pereira" com o casamento, nascida em 1924) e Antonia Josino de Paiva (nascida em 1926. O vovô Francisco Cavalcante de Paiva também casou-se por uma segunda vez com Edwigens Feitosa de Paiva, tendo uma única filha, Maria José Feitosa de Paiva (nascida em 27-08-1956.
Contou também ela que a vovó Bárbara faleceu em abril de 1952, de ataque cardíaco, e o vovô Francisco em junho de 1971, e câncer no pâncreas. Os dados fornecidos por ela podem não conferir com exatidão pois foram obtidos de sua memória.

Exemplo de concórdia entre casados
Mamãe conta que, ao chegar a Fortaleza, dedicou-se à arte de corte e costura a fim de ajudar papai na despesa da casa. Embora não fosse uma costureira ou modista tão competente, conseguia vez por outra uma encomenda. Certo dia, uma freguesa pediu-lhe que fizesse um vestido, mas usando o tecido de tal forma que as figuras nele desenhadas ficassem sempre de cabeça pra cima. Na hora de confeccionar a parte da frente do vestido, porém, ela erra e coloca as figuras de forma diferente daquela que sua freguesa havia pedido. Constrangida, disse ao papai que tinha de comprar outro pano e fazer o vestido novamente da forma que a cliente queria. Mas, em resposta, ele lhe falou secamente que não fosse comprar o pano. Ela nada respondeu, mas, caladinha, foi ao comércio e comprou o pano. Chegando em casa foi logo confeccionar o vestido da forma correta. Mal terminou de concluir o seu trabalho e teve uma ingrata surpresa: papai apareceu na frente dela e, de repente, pegou o vestido, riscou um fósforo e pôs fogo nele. Isto sem dizer uma só palavra. Ela também sem dizer palavra pôs-se a chorar, olhando com tristeza o fruto de seu trabalho sendo consumido pelo fogo. Papai saiu dali calado, mas não demonstrou no momento estar arrependido do que fez. Não demorou muito, porém, e logo se manifestou nele sua bondade. Dentro de alguns instantes, chegava da rua com o tecido que agora tinha ido comprar, entregou-o a ela sem dizer uma palavra e o assunto foi assim encerrado

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Grande Ponte : a devoção à Nossa Senhora


Assista a uma exposição de slides em que são descritas diversas pontes, belíssimas pontes construídas pela mão do homem. Basta clicar aqui: "A Grande Ponte".

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Um irmão de bom coração

Comemoramos ontem, dia 4 de agosto, o aniversário de nosso irmão Franciné, o irmão de bom coração, conforme o definiu o nosso pai. As definições que acompanham o coração humano têm várias origens e qualificações: existem pessoas de "coração mole", outras de "coração duro", algumas de "coração amoroso" e até existem pessoas "sem coração", conforme o dito popular. O nosso querido irmão, o Franciné, é um irmão de "bom coração". Abaixo, parte daquela poesia em que o nosso falecido pai homenageou cada um de seus filhos por ocasião de sua bodas de ouro, desta vez falando sobre seu quarto filho.
O quarto, o Franciné
Que é também muito querido
Possui um bom coração
E é o mais extrovertido

Homenagem póstuma de um filho (X)


X – Agravamento da doença

Por: Jurandir Josino Cavalcante

Pudéssemos avaliar o dia a dia do papai, como quem olha a um fósforo queimando, poderíamos dizer: era um lento caminhar para a morte. E víamos o presente e o futuro, sem poder mais que sofrer juntos. A espera seria talvez longa, mas, no ar, o prognóstico fatal estava muito vivo. Assim, o amor filial crescia. A expectativa da perda faz dessas com o homem, sustenta e fortalece o apego e o medo da separação. Neste caso, tratava-se de zelar pela permanência entre nós desse santo que tantos milagres fizera para dar o nosso sustento, nossa educação, nossa formação cristã, nosso conhecimento das mazelas do mundo. Partíamos para a luta, contra a opinião dos que prognosticavam, para a idade provecta, a ação demolidora das parcas, que, consoante nossos antepassados latinos, cortavam o fio da vida. Se necessário, lutar, esgrimir, corpo-a-corpo, mas não perder, não deixar esvair aquele amor, fonte e sustento de nossas vidas.
Em 1977, quando contava sessenta e seis anos, submetera-se à cirurgia da próstata. Os filhos revezaram-se ao pé de seu leito, na Policlínica. A filha, personalidade forte como a do avô materno, brigara pelo direito de estar ao seu lado na vigília noturna, e saíra vencedora. Papai teve recuperação rápida. Voltou forte, pronto para reiniciar a batalha que duraria mais dezoito anos. Portava malignidade que teve de tratar. Porém, desse dia até expirar, nunca foi homem de se queixar de qualquer incômodo. Pelo contrário, como disse à jornalista: “... não me sinto velho. Sou muito jovem”. O seu jeito de ser, o seu estilo, era antes de tudo um estado de espírito, que sabia esconder surpreendentemente a carga pesada dos oitenta e três anos de vida.
Dezoito anos portanto se passaram, e estava ali, acamado, a solicitar pela ajuda dos jovens filhos, agora em número de seis, sobreviventes dessa longa e penosa caminhada.
Disse, no começo ninguém deu crédito aos seus reclamos: era forte e com saúde para dar e vender, além de representar para todos nós quase um mito, algo como esses heróis lendários, que atravessam as idades sem nunca morrerem. Essa crença só lhe trouxe prejuízos, pensando os que o rodeavam que era mais uma de suas famosas brincadeiras. Entretanto, certo dia em que as dores cutucavam com insistência, tomou do telefone, ligou para um filho. E entre lamentos e pedidos de atenção, concluiu chorando: “Logo você, meu filho, me falta nesta hora?”. Nesse momento o coração do filho bateu mais forte, sentiu estar à frente de um drama, drama paterno, trágico drama paterno. Umedeceu também os olhos e sentiu uma grande inquietação interior. Correu ao encontro do pai, para abraçá-lo, para beijá-lo, para socorrê-lo.
A idade agora subia a mais de oito décadas, cume no qual o homem não possui mais aquele brilho e aquele equilíbrio de outrora. Aos filhos exigia-se que formassem no conjunto, ou na individualidade, o seu cajado, rijo e de boa cepa, para a firmeza da caminhada e para o bom trilhar dos caminhos e descaminhos. Era verdade, o filho percebeu, ao vê-lo, a doença já o fizera sério, não havia mais aquele pai alegre, capaz de transformar tristezas em alegrias, sisudez em risadagem. Desse dia, começaram as idas e vindas aos doutores; mudanças da cama para a rede; os incômodos de não estar bem em qualquer posição; os medicamentos fortes, contra as dores insuportáveis. Os outros, todos os filhos, procuraram dar de si o que nem para si davam. Os que viviam perto, mais perto ficaram; os de longe, correram para junto.
Passou o seu aniversário; chegou o Natal, entrou o novo ano: nos semblantes lia-se tristeza, lia-se silêncio, lia-se incapacidade de dar as respostas que a ciência não soubera dar. Tudo fez-se para pacificá-lo, aquietá-lo, devolver-lhe a tranqüilidade da alma. Deitamo-lo num colchão d’água. Assistimo-lo noite e dia. Não melhorava. As mentes, os olhos, os corações, as mãos elevaram preces para o alto, unissonantes, crédulas, filiais, a pedir ao Pai pelo pai.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Exposição contra o aborto em Fortaleza

Foi realizada em Fortaleza uma "Exposição em Defesa da Vida", organizada pelo Movimento "Brasil sem Aborto". A reação contra o aborto vem crescendo no Brasil e as exposições desse movimento vem percorrendo todas as capitals, como Natal e João Pessoa. Veja uma exposição de slides contra o aborto. Mais informações clique aqui "Brasil sem Aborto"